domingo, 28 de dezembro de 2008

Os três elementos essenciais do Taijiquan - FSY

Grão Mestre Fu Shen Yuan (Quinta Geração da Escola Yang de Tai Chi Chuan )

Praticar a arte do Tai Chi requer a utilização de todas as partes do corpo, movimentando-se em conjunto e em harmonia. Os movimentos devem ser suaves e contínuos, e não bruscos e violentos. Durante os movimentos há uma constante interação entre o compacto e o vazio. Os movimentos refletem a naturalidade do corpo em marcha e destinam-se a empregar a força estrutural do corpo. Se você quiser entender o Tai Chi, obedeça aos princípios esboçados nos Clássicos do Tai Chi. Não faça a confusão de traçar analogias com outras artes marciais chinesas.
Os caracteres "Tai Chi" têm sua origem com The Book of Changes (O Livro das Mutações), escrito nos tempos da dinastia Zhou, há mais de dois mil anos. No Livro das Mutações consta que foi do Wu Chi (O Grande Nada) que surgiu o Tai Chi (O Grande Final); depois o Tai Chi se expressa através do Liang Yi, que dá origem ao Su Xiang; e daí surge o Pa Kua. O Tai Chi, que é a interação do yin yang, é a força propulsora que está por trás de todas as coisas. Em relação ao corpo humano, Liang (que significa dois) Yi representa os lados esquerdo e direito; Su (que significa quatro) Xiang refere-se aos dois braços e às duas pernas; Pa (que significa oito) Kua refere-se a braços e antebraços, coxas e pernas. O universo é chamado O Grande Tai Chi, e o corpo humano, sendo um microcosmo do universo, é chamado O Pequeno Tai Chi. O ponto central do corpo humano está localizado no Dan Tian, cerca de 4cm abaixo do umbigo e à mesma distância para dentro do corpo. Na arte do Tai Chi, os movimentos do corpo têm origem no Dan Tian. Quando o Dan Tian cessa seu movimento, todo o corpo para de movimentar-se. Se apenas uma parte do corpo está em movimento, então o verdadeiro significado do Tai Chi não foi alcançado. Uma vez movimentado o Dan Tian, este, com seus movimentos suaves, controla ambos os lados da cintura, mais os braços e as pernas. Aos movimentos originados do Dan Tian é importante não imprimir muita força. Os movimentos devem ser suaves e contínuos, de forma que o chi possa fluir do Dan Tian para todas as partes do corpo. No começo os movimentos parecem fracos. Mas, com a continuação do exercício, uma força interior chamada jin (que é diferente da força bruta) vai sendo gradualmente cultivada. Antes de estudar os dez pontos importantes de Yan Cheng Fu relativos à prática do Tai Chi, você deve familiarizar-se com os três elementos essenciais, que são: o relaxamento, a firmeza e a concentração. O relaxar refere-se ao corpo; a firmeza refere-se ao chi, e a concentração ao espírito.
RELAXAMENTO No Tai Chi, o relaxar não implica em esvaziamento. É um processo que capacita a pessoa a distinguir e separar as diferentes partes do corpo. No início, a maioria das pessoas utiliza força muscular bruta para movimentar as diversas partes do corpo. Ao conscientizar-se e aprender a relaxar, começa-se então a distinguir entre tensão e relaxamento do corpo. Isso leva gradativãmente a uma utilização mais homogênea e integral da força corporal. Uma vez que você aprenda a relaxar e não mais depender da força bruta externa, seus movimentos de Tai Chi tornam-se mais naturais.
O uso da força bruta torna seus movimentos duros e desajeitados. Embora você possa pensar que é forte, está apenas usando parte da força do corpo. O relaxamento possibilita a utilização de todo o corpo e permite que a sua força atinja todos os pontos. No começo, a utilização da força bruta faz seu corpo flutuar ou tornar-se extremamente pesado. Ao relaxar, você começa a sentir que seu corpo está afundando. A prática desta maneira levará gradativamente ao desenvolvimento do chen jin. Nos Clássicos, é o que se chama "ser tão pesado como uma montanha, tão leve como uma pluma". Esse peso é sentido pelo seu oponente assim que você põe as mãos sobre ele. Quem já desenvolveu o chen jin pode facilmente localizar e subverter o centro de gravidade do oponente.
FIRMEZA A firmeza aqui refere-se à localização e cultivo do chi. Para conseguir isso, a mente e o corpo precisam estar relaxados. Se você usar a força bruta, o seu chi se dispersará. Seus movimentos devem ser executados com atenção, sem excesso mas sem deficiência, com o seu corpo movimentando-se como um todo. Na seqüência do Tai Chi, se seus movimentos forem muito abertos, o seu chi se dispersará e perderá a firmeza. Se seus movimentos ficarem muito perto do corpo, o seu chi não circulará livremente. Firmar o seu chi significa baixá-lo até o Dan Tian. Isto ajudará a manter o corpo estável e a fazer com que a sua respiração se torne profunda, agradável e suave. É importante lembrar que sua respiração se tornará naturalmente mais profunda, sem qualquer esforço consciente. Prática diária Em sua prática diária do Tai Chi, você deverá deixar que seus braços afundem e pendam de seus ombros; os ombros deverão ser arriados, os cotovelos abaixados e a cintura alinhada, com o sacro empurrado para baixo; assim, gradativamente, o seu chi afundará. Isso é o que se chama de esvaziar o peito e permitir que o chi se aloje no Dan Tian. Se seu chi subir, seus movimentos de Tai Chi parecerão estar flutuando e perderão substância.
CONCENTRAÇÃO A concentração refere-se ao espírito. Quando o interno e o externo estão em harmonia, o espírito atinge o estado de concentração. A harmonia externa ocorre quando os ombros e a parte superior dos braços, cotovelos e joelhos, mãos e pés, estão todos trabalhando em perfeito sincronismo. A harmonia interna ocorre quando o coração e a mente, a mente e o chi, o chi e o jin, estão todos trabalhando em perfeita concordância entre si. Uma vez que o interno e o externo estejam unidos, a mente e o corpo se unificam e essa conscientização atinge todas as partes do corpo. Nesta fase, a mente comanda o corpo e a força bruta não é mais utilizada. Uma vez conseguida a harmonia entre o interno e o externo, a sua postura será correta. Quando isso ocorre, o espírito concentra-se e se eleva.

Mestre Yang Cheng-Fu fala sobre o Taichichuan

A Talk on Practice
by Yang Chengfu Narrado por Yang Cheng-Fu - Fonte: Internet 1998.
Existem muitas escolas de WU SHU ( Artes Marciais) Chinesas todas com habilidades técnicas baseadas na Filosofia. Desde tempos antigos, muitas pessoas devotaram sua vida e energia para prover a natureza e a essência do wushu e obter maestria em suas habilidades, mas muito poucos conseguiram atingir o seu objetivo. Entretanto, um aprendiz pode melhorar suas habilidades se for persistente na sua prática e com certeza algum dia vai se tornar um experto. Como diz a tradição:
“Água mole em pedra dura, tanto bate até que fura.”
O Tai Chi Chuan é parte de uma rica herança cultural Chinesa. É uma arte na qual movimentos vagarosos e suaves são encorporados com vigor e força. Como um dito Chinês adverte: “Uma agulha oculta no algodão”. Suas qualidades técnicas, fisiológicas e mecânicas, todas tem uma base filosófica. Para os estudantes a guia de um bom professor e discussões sobre as técnicas e habilidades com amigos, são necessárias, mas a coisa mais importante é a persistência e a prática incansável. Inclusive, não há nada que se equipare à prática, e os aprendizes do Tai Chi Chuan, homens e mulheres, jovens e idosos, irão tirar o melhor proveito se mantiverem esta prática durante todo o ano.
Atualmente o número de pessoas estudando o Tai Chi Chuan nas várias partes da China, tem aumentado e isto é indicação do desenvolvimento do wushu. Muitos aprendizes são conscientes e persistentes no treino o que os capacita a atingir altos níveis de resultados. Mas deve se salientar duas tendências erradas das quais os iniciantes devem se prevenir.
A primeira é que algumas pessoas que são jovens e talentosas adquirem uma compreensão mais rápida do que a maioria e tornam-se complacentes, abandonando a prática no meio do caminho. Estas pessoas nunca terão grande sucesso.
A segunda tendência errada é que alguns aprendizes são muito ansiosos para conseguir sucesso instantâneo. Eles querem aprender tudo em pouco tempo, desde o boxe das sombras até as formas com espada e sabre, et. Eles conseguem apreender superficialmente um pouco de cada uma destas práticas, mas não são capazes de compreender a essência e os seus movimentos e posturas estão cheios de defeitos aos olhos de um experto. É muito difícil corrigir seus movimentos porque uma completa revisão é necessária e freqüentemente eles conseguem corrigir seus movimentos de manhã, mas à noite já voltaram a cometer os mesmos erros. E como dizem os Clássicos:
“Aprender Tai Chi Chuan é fácil, mas corrigir um estilo errado é muito difícil.”.
Em outras palavras, quanto maior a pressa, menor a velocidade. E se estas pessoa passam os seus erros para os outros, elas vão estar causando grande prejuízo aos seus aprendizes. No aprendizado do Tai Chi Chuan deve-se primeiro começar com a Forma, aprendendo de acordo com as rotinas e seguir os movimentos do professor de forma muito consciente e cuidadosa e manter cada ação em sua mente. Ao mesmo tempo deve prestar atenção ao NEI = interno; WAI = externo; SHANG = acima e XIA = abaixo. NEI = INTERNO significa usar a mente ao invés da força.

WAI = EXTERNO significa o relaxamento dos membros, ombros e cotovelos, realizando os movimentos desde os pés para as pernas, para a cintura, de forma suave e contínua. SHANG = ACIMA significa manter a cabeça sempre erguida, alta. XIA = ABAIXO significa submergir a respiração no baixo ventre.
Para um principiante o mais importante é lembrar-se destes pontos, apreender sua essência e praticar cada movimento corretamente vezes e vezes, nunca procurando sucesso instantâneo. É aconselhável fazer progressos vagarosos e estáveis e isto vai levar bastante tempo. Na prática do Tai Chi Chuan é necessário manter as juntas do corpo relaxadas de forma que os movimentos sejam naturais e não sejam restritos. Não prenda a respiração (o que levará você a soprar e bufar) e não use força rígida para mover os braços, pernas, cintura e corpo, mas tente fazer os seus movimentos suaves e contínuos. Estes dois pontos são bem conhecidos entre os expertos em wushu, mas muitos praticantes tem dificuldade em coloca-los em prática. Os aprendizes devem manter na mente os seguintes pontos:
1 - Manter a cabeça ereta e não inclina-la para frente ou para trás. Como se diz: “É como se algo estivesse em sua cabeça e você deve tomar cuidado para que esse objeto não caia.” Mas não se deve manter a cabeça erguida de forma rígida. Os olhos devem olhar adiante, seguindo os movimentos dos membros e do corpo. Apesar dos olhos observarem o vazio, eles são um componente importantíssimo nos movimentos do corpo como um todo. Sua boca deve permanecer maio aberta e meio fechada, com o nariz inspirando e a boca expirando naturalmente. Se saliva é produzida, deve-se engolir.
2 - Mantenha o torso ereto e a coluna e o osso sacro vertical. Quando se mover sempre mantenha o peito suavemente para dentro e as costas arredondadas. Os principiantes devem manter estes pontos em sua mente pois de outra forma seus movimentos se tornarão meras formalidades com aparência estúpida e eles não serão capazes de fazer muito progresso, não importa quantos anos pratiquem.
3 - Relaxe as juntas dos dois braços, deixando os ombros para baixo e os cotovelos se curvam naturalmente; as palmas devem estar estendidas naturalmente e os dedos levemente abaulados. Movimente os braços com consciência e envie Chi (energia vital) para os dedos. Lembre-se destes pontos chaves e com certeza atingirá sucesso.
4 - Tome nota das diferenças de distribuição de peso nas pernas que se movem tão suavemente como um gato. Quando um pé está plantado firmemente no chão, o outro está na forma vazia. Quando você muda o peso para a perna esquerda por exemplo, então o pé esquerdo estará firme no chão enquanto o direito estará vazio, sem peso e vice-versa. Apesar do pé estar numa forma vazia (sem peso), ele está sempre pronto para se mover. Quando o pé está firme no chão, não significa que você deve exercer muita força com aquela perna, se fizer isto, seu corpo vai inclinar em demasia para frente e você vai perder o equilíbrio.
5 - A ação dos pés é dividida em chutar para cima e chutar para baixo. Quando você chuta para cima, preste atenção nos dedos dos pés, quando chuta para baixo, preste atenção na sola; a atenção da ação será seguida pela energia vital e a energia vital será seguida pela força. Quando você faz tudo isso, deve relaxar as juntas e evitar a rigidez. Na prática do Tai Chi Chuan deve-se primeiro obter maestria na “forma” como foi mencionado acima (forma de mãos nuas), então pode-se preceder no aprendizado do Tue Shou com uma mão, empurrar de um lado, empurrar com movimento de pés e luta de mãos livres e depois de um período, pode-se exercitar-se com as armas tais como Espada Tai Chi, Tai Chi Sabre e Tai Chi de Lança.
Os aprendizes devem praticar regularmente todas as manhãs e antes de ir dormi r. É preferível praticar sete ou oito vezes durante o dia; se não houver tempo, pelo menos uma prática de manhã e uma à noite deve ser realizada. Não pratique imediatamente às refeições ou após beber. O melhor lugar para as práticas são parques onde o ar é fresco e o ambiente saudável. Não pratique em dias de vento ou em lugares sujos porque quando se exercita, deve-se respirar profundamente e a sujeira pode ser prejudicial aos pulmões. É aconselhável usar roupas confortáveis e sapatos de tecido ou borracha.
Quando você transpirar, não tire suas roupas, nem esfregue toalhas úmidas, pois com certeza você vai se resfriar e ficar doente.
-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

MANUSCRITOS DA FAMÍLIA YANG II



MANUSCRITOS DA FAMÍLIA YANG COPIADOS POR SHEN CHIA-CHEN

Em T’ai-chi ch’üan yen-chiu ( Estudos sobre o T’ai-chi ch’üan ) ,
de T’ang-hao e Ku Liu-hsing. Hong Kong, Pai-ling ch’u-pan-she, n. d.


O Significado de Nivelar a Cintura e a Coroa da Cabeça no T’ai-chi-ch’üan

A coroa da cabeça deve ser nivelada, pois é dito que “o topo da cabeça deve ser como que suspenso pelo alto”. As duas mãos deslocam-se em órbitas, à direita e esquerda, enquanto que a cintura é a raiz. Se permanecermos nivelados, mantendo isto no corpo todo, seremos capazes de detectar os mínimos graus de peso ou leveza, de flutuação ou de fixação ( abaixamento ). Expressando a idéia de nível como se fosse suspenso pelo alto (referindo-se a uma linha reta da coroa da cabeça à raiz na cintura , e do ponto hsiung-men , no meio das costas, ao ponto wei-lü, na base da coluna), há um poema que diz:

“Uma linha reta, do topo ao fundo.
Tudo depende de girar as mãos.
Meça as mudanças no mais leve grau,
Com clara distinção entre metros e centímetros.
A cintura é como a roda da carroça,
Que gira quando seus eixos solicitam.
A mente comanda, e o ch’i age como bandeiras.
Meu movimento é segundo à minha conveniência,
Meu corpo é todo ágil e leve,
Mas temperado e resistente como o diamante.
Meu oponente serpenteia, para dentro e fora,
Mas cedo ou tarde faremos contato
E ele será repelido, mesmo sem meu
Desencadear de um raio poderoso.
Devemos saber até que ponto brincar
E quando fazê-los gritar e abatê-los.
Esta lição oral é transmitida em segredo.
Abra o portal e contemple,
Pois este, em verdade, é o Céu!”



Poema do Manter o Centro no Treinamento de Defesa Pessoal


Na postura do Equilíbrio Central é preciso
Os pés enraizar.
Primeiro entenda as quatro direções cardinais,
Avançar e recuar.
Aparar, Puxar para Trás, Pressionar e Empurrar
Requerem quatro mãos para praticar.
Muito empenho deve-se dispender
Para o verdadeiro significado alcançar.
O corpo, cintura, coroa da cabeça e ordem geral,
Todos devem ser agentes.
Em penetrar, aderir, juntar e acompanhar
O ch’i e a mente são regentes.
O espírito é o regente,
Carne e ossos são seus objetos.
Entendendo de modo claro e total
Da arte seus aspectos,
Atingir a perfeição é natural,
No civil e no marcial.

Poema do Círculo do T'ai-chi

É fácil o círculo de recuar;
Mas difícil é o círculo de avançar.
Não se afaste da correta postura
Da coroa da cabeça ou da cintura,
Seja na frente ou na retaguarda.
O mais difícil é do Equilíbrio Central
Não estar ausente.
É fácil recuar, difícil avançar,
Isto considere cuidadosamente.
Isto se refere à arte do movimento,
E não a posturas estáticas.
Devemos avançar e recuar
Ombro a ombro mantendo com o oponente.
Seja como a pedra de moinho,
Lenta ou rápida movente,
Ou como a Nuvem do Dragão
Ou o Vento do Tigre, rodopiante.
A busca tem auxílio inicial
Da Rosa-dos-Ventos e,
Depois de longo tempo,
Tudo será perfeito e natural.


----------------------------------------------------------------------------

MANUSCRITOS DA FAMÍLIA YANG

MANUSCRITOS DA FAMÍLIA YANG COLETADOS
POR LI YING-ANG


Do T'ai-chi ch'üan shih-yung fa (Aplicações de Defesa Pessoal do T'ai-chi ch'üan ) , editado por Li Ying-ang, Hong Kong, Unicorn Press, 1977.


Princípios do Corpo

Relaxar o tórax. Soltar os ombros.
Expandir as costas. Baixar os cotovelos.
Rodear o Plexo Solar. Suspender o plexo solar.
Proteger o Rosto[1]. Ser evasivo.
Levantar a Cabeça. Evitar conflito.


Quatro Aspectos da Transmissão Secreta :

Expandir - quer dizer que mobilizamos nosso ch’i expandindo-o sobre a energia de nosso adversário, prevenindo-nos de seus movimentos.

Cobrir - significa que usamos nosso ch’i para cobrir a investida do atacante.

Sentir[2]- usamos o ch’i para sentir a investida do oponente, avaliar sua intenção e procedermos uma evasão.

Envolver[3]- empregamos o ch’i para tudo envolver e neutralizar.

Estes quatro aspectos representam o que não tem forma nem som. Sem a habilidade de interpretar a energia e treiná-la até a mais elevada perfeição, eles não podem ser compreendidos. Aqui falamos exclusivamente de ch’i. Somente se o ch’i for corretamente cultivado, sem ser danificado, poderá ser ele projetado pelos membros. Seu efeito nos membros não pode ser descrito em palavras.




Poemas dos Oito Caminhos (atribuídos a T’an Meng-hsien)

· Poema do Aparar

Como explicar a energia do Aparar?
É como a água um barco em movimento carregando.
Torne o ch’i substancial no tan-t’ien primeiramente,
Também deve-se a cabeça pelo alto suspender.
Todo o corpo tem de uma fonte o poder.
Claramente definidos devem ser Emitir e Receber.
Mesmo que mil quilos de força use o atacante,
Sem dificuldade flutuaremos, suavemente.

· Poema do Puxar para Trás

Como explicar a energia do Puxar para Trás?
Permitindo seu avanço em nossa direção,
O oponente conduzimos,
Enquanto seguimos sua força de aproximação.
Até seu excesso continuando a condução,
Leves e confortáveis permanecemos,
Sem a postura vertical perdermos.
Ao gastar sua força,
Vazio naturalmente ele estará; e nós,
Se o centro de gravidade mantermos,
Nunca ser superados poderemos.

· Poema do Pressionar

Como explicar a energia do Pressionar?
Os dois lados empregamos
Em certa ocasião,
Para receber diretamente
Uma simples intenção.
Encontrando e combinando
Em uma única ação,
Recebemos indiretamente
A força da reação.
É como a bola
Na parede rebatendo,
Ou como a moeda
No tambor se derrubando,
Com tom metálico ressoando.

· Poema do Empurrar

Como explicar a energia do Empurrar ?
Quando aplicado,
É como água em movimento,
Mas em meio a suavidade,
Grande força é encontrada.
Quando o fluxo é ligeiro,
A força não é estagnada.
As ondas quebram-se nos lugares altos,
Mergulham fundo nos lugares baixos.
As ondas sobem e descem,
Mas um buraco encontrando,
Nele certamente avançarão.

· Poema do Puxar para Baixo

Como explicar a energia do Puxar para Baixo?
Permitimos ao adversário
Liberdade para sua força,
Seja ela grande ou pequena,
Como se algo na balança pesássemos.
Depois de avaliado,
Seu peso ou leveza conhecemos.
Girando com poucas gramas,
Muitos quilos pesaremos.
Se pelo princípio subjacente perguntamos,
A função da alavanca descobrimos.

· Poema do Tangenciar

Como explicar a energia do Tangenciar?
Revolvendo como um tornado,
Se algo contra ele é atirado,
A longa distância é arremessado.
Redemoinhos em ligeiras correntes aparecem,
E como espirais são as ondas encrespadas.
Se em sua superfície as folhas caem,
Nunca de nossa vista desaparecem.







· Poema do Ataque com o Cotovelo

Como explicar a energia do Ataque com o Cotovelo?
Nosso método pelos Cinco Elementos
Deve ser considerado.
Yin e Yang acima e abaixo
São divididos,
Cheio e Vazio claramente devem
Ser distinguidos.
O oponente nosso contínuo movimento
Não pode agüentar,
E mais aterrador é o nosso
Explosivo golpear.
Quando meticulosamente dominadas são
As seis energias,
As aplicações infinitas serão.

· Poema do Ataque com o Ombro

Como explicar a energia do Ataque com o Ombro?
Entre ombros e costas
O método é dividido.
Na postura Vôo Diagonal
O ombro é usado,
Mas entre os ombros
Há também as costas.
Quando repentinamente
A oportunidade se apresenta,
Ele golpeia em colisão,
Como a mão do pilão.
O centro de gravidade
Cuidadosamente manter devemos,
Pois se o perdermos,
Certamente falharemos.






Poemas dos Cinco Passos

· Poema do Avançar

Quando é hora de avançar,
Sem hesitação deve-se avançar.
Se obstáculos não encontrar,
Continuamente deve-se avançar.
Falhando o avanço na hora certa,
A oportunidade é perda certa.
Avaliando a ocasião de avançar
Corretamente,
Vitoriosos seremos
Certamente.

· Poema do Recuar

Se nossos passos seguem
Do corpo as mudanças,
então nossa técnica será
Perfeita e bem acabada.
Evitando o cheio,
Enfatizando o vazio,
Assim o oponente
Se apóia em nada.
Falhando em recuar,
Quando se pede recuar,
Nem sábio nem corajoso
Isto pode se chamar.
Verdadeiramente,
Recuar é avançar,
Se em contra-ataque
Ele pode se tornar.

· Poema do Olhar para a Esquerda

Para a esquerda e para a direita,
Yin e Yang mudam
Segundo a situação.
Evadimo-nos pela esquerda
E atacamos pela direita,
Com passos firmes e convicção.
Operam juntos pés e mãos,
Joelhos, cotovelos,
Cintura também.
Nossos atos o oponente
Sondar não pode, e contra nós
Defesa não tem.
Poema do Olhar para a Direita

Com passos perfeitos,
Fingindo à esquerda, atacamos pela direita.
Seguindo a ocasião,
Golpeamos à esquerda, atacamos pela direita.
Tudo que é frontal evitamos,
E mudanças de condições avaliando,
Lateralmente avançamos.
Cheio e vazio, esquerda e direita
Sem falhas, use técnica perfeita.


Poema do Equilíbrio Central

Estáveis e serenos como a montanha,
Estamos centrados.
Nosso ch’i baixa para o tan-t’ien,
Somos como que suspensos pelo superior.
Nosso espírito é concentrado,
A composição é perfeita no modo exterior.
Energia emitindo e recebendo,
Ambos frutos de um instante operando.




******************************************





[

NOVE TRANSMISSÕES SECRETAS DO T'AI CH’I-CH’ÜAN
Do T'ai-chi ch'üan chiu chüeh chu-chieh ( Nove Transmissões Secretas do T'ai-chi ch'üan , com Anotações ) , de Wu Meng-hsia. Hong Kong: 1975, T’ai-p’ing shu-chü. O autor recebeu as transmissões de Niu Lien-yüan, aluno de Yang Pan-hou.


1) Segredos de Aplicação da Forma do T'ai-chi ch'üan

Infinitas são as maravilhas do T'ai-chi ch'üan;
Aparar, Puxar para Trás, Pressionar e Empurrar,
Todos nascem do Alisar a Cauda do Pássaro.

Saia em ângulo e execute o Chicote Simples
Para golpear o peito do oponente;
Gire o corpo e execute o Levantar as Mãos,
Para barrar sua investida.
Do Apanhar a Lua no Fundo do Mar,
Mude para a Cegonha Estende as Asas.
Bloqueie e ataque sem piedade
o flanco do adversário.

Limpar o Joelho e Dar Passo Torcendo o Corpo,
Procurando com o golpe tirá-lo de centro;
Execute Tocando a Guitarra perfeitamente alinhado,
Transformando a energia.
Ao projetar-se em direção ao corpo do atacante,
Aderindo a ele, use os cotovelos
Para atacá-lo horizontalmente.
Se o cotovelo é apanhado, gire para trás
E golpeie com o punho, obtendo igual sucesso.
Avance, Desvie, Apare e Soque as costelas;
Use o Fechamento Aparente
Para proteger o centro.

São infinitas as permutações do Cruzar as Mãos;
Abraçar o Tigre e Retornar a Montanha
Demonstra o Puxar para Baixo e o Tangenciar.
O Punho sob o Cotovelo
Protege as articulações médias;
Dê três passos para trás
Para Repelir o Macaco.

Baixe o corpo ao retroceder
E use o poder de puxar do quadril;
A técnica do Vôo Diagonal
É infinitamente útil.
Na Agulha no Fundo do Mar
Devemos inclinar o corpo para baixo;
Em Abrir o Leque, empregue
A habilidade de se apoiar.
O método de chaves de quebrar
Reside na cintura;
Avance três vezes em Mãos Como Nuvens,
Demonstrando destreza com o antebraço.

Afagar o Cavalo é empregado
Para bloquear e penetrar.
Em Separar os Pés à Direita e Esquerda,
Devemos primeiro dominar
A cintura do adversário.
Aplique Virar e Chutar com o Calcanhar
No abdômen do oponente.
Execute o Recuar e Golpear com o Punho
Para atacar diretamente o seu rosto.

Gire o corpo e mude para
A Serpente Branca Mostra a Língua;
Agarre a mão do atacante
E golpeie seus olhos.
Desferir Chute com o Calcanhar Direito
Visando o flanco do adversário;
Execute perfeitamente o Golpear o Tigre,
Seja à esquerda ou à direita.
Avance e ataque o peito do oponente
E abaixo das costelas.
A técnica do Vento Duplo Atravessa as Orelhas
É efetiva ao máximo.

Chutar à Esquerda com o Calcanhar
É o mesmo que Chutar à Direita com o Calcanhar.
Use o Virar o Corpo e Chutar
mirando o joelho do oponente.
Dividir a Crina do Cavalo Selvagem
é aplicado sob as axilas;
Bela Donzela Empurra a Naveta
Fecha os quatro cantos ( das diagonais ).
Use Bela Donzela para remover
E elevar o braço do atacante.
À esquerda ou direita,
O golpe é o mesmo.
A Serpente que Rasteja usa as pontas dos dedos
Para invadir as partes privadas do adversário.
Galo Dourado num Pé Só
Fornece um absoluto domínio.
Levante o joelho,
Atacando o órgão mais vital;
Ou use a mesma perna
Para pisar com firmeza
Sobre os pés do oponente,
Sem piedade.

A técnica do Cruzar as Pernas
Quebra o osso maleável abaixo do joelho[4];
Se o Socar o Meio das Pernas não é bem sucedido,
Prossiga com um Ataque com o Ombro.

A postura Avançar com Sete Estrelas
Forma um aparo com as Mãos;
Recuar para Montar o Tigre
Rapidamente transfere nosso centro.
Ao executar o Rodar o Corpo e
Varrer o Lótus com um Chute, esteja certo
De proteger a perna que avança.
Empregue o Flechar o Tigre com o Arco
Para atacar o peito do oponente.
Durante o Recolher e Empurrar,
Esteja atento para o
Olhar à Esquerda, Olhar à Direita
E Equilíbrio Central;
Cruzar as Mãos fecha a forma do T’ai-chi.
Ao aplicar as aplicações da forma,
A coisa mais importante é a mente;
Relaxe o corpo, estabilize o ch’i
E concentre o espírito.











2) Segredos de Aplicações das Treze Posturas

Em aparar, os braços devem ser curvados,
Como se aparassem o alto;
Seja ativo ou sereno, cheio ou vazio,
O potencial de ataque está sempre presente.
Quando as mãos se unem ao oponente,
Primeiro use Puxar para Trás, depois Pressionar;
Se o adversário desejar contra-atacar,
Ele provará ser isto bem difícil.
Ao aplicar o Empurrar,
Parece até que poderíamos cair[5];
Faça contato em dois pontos
E não os solte.

Quando a ataque é ameaçador,
Use a técnica do Tangenciar;
Os Ataques com o Cotovelo e com o Ombro
Aplicam-se quando surge a oportunidade.
avançar, recuar, rodar o corpo no eixo
Ou para os lados, nossos movimentos
Devem responder às condições;
Que temor devemos ter
De excelente técnica do adversário?
Ao confrontar tal oponente,
Não receie aproximar-se dele,
Mas tenha cuidado com seus
Três Atacantes Dianteiros
(Mãos, pés e olhos),
E com as Sete Estrelas do adversário
(ombros,cotovelos, joelhos, quadril
cabeça, mãos e pés).
Quando o oponente se aproxima
Atacando vigorosamente,
Devemos rapidamente nos evadir,
Removendo nosso centro
E atacando-o pela lateral.
Os métodos incorporados
Nas Treze Posturas do T’ai-chi
Devem ser fielmente praticados;
Só assim desabrocharão suas maravilhas.




3) Segredos do Uso das Treze Posturas


Se encontramos um adversário cujo Aparar
Penetrar em seu círculo não está nos permitindo,
Será muito difícil para nós avançar em progresso,
Simplesmente acompanhando e aderindo.
Se somos bloqueados pelo seu Aparar,
Devemos tentar usar Puxar para Baixo ou Tangenciar;
Se houver sucesso,
Administre a oportunidade sem demora.
Controlo meus quatro lados
E procuro falhas nos quatro cantos do oponente;
Depois do contato feito,
Aquele que primeiro agir, efetivamente
Prevalecerá.


Os dois métodos, Puxar para Trás e Pressionar,
Devem ser usados na ocasião certa.
Ao aplicar o Ataque com o Cotovelo ou com o Ombro,
Situe-se à frente do calcanhar do oponente.
Avance e recue conforme peça a situação.
Use Olhar à Esquerda e Olhar à Direita
Sempre tendo em mente as Sete Estrelas
E os Três Atacantes Dianteiros.
O real poder do corpo inteiro
Deve estar concentrado no centro;
Ouvir, interpretar, acompanhar e neutralizar
Devem estar imbuídos de espírito e ch’i.
Se ao vermos uma oportunidade sólida
Falhamos em dela tirar vantagem,
Como dizer que nossa arte é completa?
Se não praticarmos de acordo
Com as aplicações dos princípios,
Poderemos trabalhar para sempre,
Sem jamais desenvolver uma arte superior.






4) Segredos do Método das Oito Palavras

Durante o Tui-shou há três mudanças,
Dois Puxar para Trás e incluindo
Um Pressionar e Empurrar.
Quando as mãos estão se unindo
E encontramos o Aparar,
Não permita ao adversário
A mão superior apanhar.

Se encontramos firmeza em nossa suavidade,
Jamais seremos derrotados;
Mas se nossa firmeza não contém suavidade,
Ela não pode ser chamada “firmeza”.
Na intenção de barrar o ataque ou defesa
Do adversário, use Puxar para Baixo ou Tangenciar;
Use poder numa investida surpreendente
Ou numa rápida rotação.
Quando aparece uma abertura
E já nos aproximamos do oponente,
Use o Ataque com o Cotovelo;
Para golpear com os ombros, quadril ou joelhos,
Primeiramente bem próximos devemos estar.

5) O Segredo do Cheio e do Vazio

Vazio, vazio, cheio,cheio,
O espírito presente deve estar;
Vazio, cheio, cheio, vazio,
As mãos têm técnicas a executar.
Praticar T’ai Chi sem o princípio
Do cheio e do vazio dominar,
É tola perda de tempo, sem
Jamais coisa alguma realizar.
Ao termos na palma da mão
Do oponente o ponto vital,
Achando o vazio esteja em guarda,
Mas se é cheio, atacar é fatal.
Se atacar o cheio falhar,
Superior a arte não pode se chamar.
Entre o vazio e o cheio sempre há
Naturalmente o cheio e o vazio;
Se podemos o princípio
Do cheio e do vazio compreender,
Nunca do ataque
O alvo pode se perder.

6) O Segredo do Livre Círculo

A técnica do Livre Círculo dominar
Possível não é sem dificuldade.
Acima, abaixo, unir e acompanhar,
As maravilhas são uma infinidade.
Se o atacante para dentro
De nosso círculo podemos atrair,
Muitos quilos por poucas gramas
Com sucesso poderá se repelir.
Quando das mãos e pés a máxima potência
Busca na lateral linha contínua, decidida,
Então do livre círculo a conveniência
Jamais será perdida.
Desejando o método do círculo dominar,
Antes o ponto de emissão é preciso acertar,
Também o alvo correto é necessário avistar,
Então nosso propósito se pode realizar.

7) O segredo do Yin e do Yang

Poucos puderam do T’ai-chi
O Yin e Yang cultivar;
Engolir (absorver) e Cuspir (emitir),
Abrir e Fechar,
O duro e o suave
Podem expressar.
Controlando as direções cardinais
E os cantos das diagonais,
Atraindo e para a frente emitindo,
O oponente fazer o que desejar
É necessário permitir;
Mas com que se preocupar
Se tudo é serenidade
E energia a transformar?
Ofensa e defesa intimamente
Coordenadas devem estar;
Em cada ação devem ser vistos
O evadir e o atacar.
Mas o que podem leve e pesado,
Cheio e vazio significar?
Tão logo leveza no peso
Do oponente podemos verificar,
Sem hesitação devemos atacar.

8) Segredos dos Dezoito Locais

Aparar está nos dois braços.
Puxar para Trás está nas palmas.
Pressionar está nas costas da mão.
Empurrar está na cintura.
Puxar para baixo está nos dedos.
Tangenciar está nos antebraços.
Atacar com o Cotovelo envolve flexão dos membros.
Ataque com o Ombro se faz contra o peito.
Em Mãos Como Nuvens está o Avançar.
Em Repelir o Macaco está o Recuar.
Olhar Fixo à Esquerda é para os Três Atacantes Dianteiros.
Olhar para a Direita é para as Sete Estrelas.
Estabilidade implica em aguardar a oportunidade.
O centro do alvo é atingido atacando pelo lado.
A inabilidade provém da dupla sobrecarga.
A agilidade deriva da simples leveza.
Encontrar o Vazio significa não atacar.
Encontrar o Cheio significa atacar.

9) Segredos dos Cinco Aspectos Clássicos

Estar exposto significa que o golpe
Provém da lateral do atacante.
Evadir e rodar para o lado
Não podem ser completamente vazios.
Neutralize a força de aproximação
Do oponente com os braços estendidos.
Acompanhar e aderir são
Os princípios que nos guiam.
Permita a tentativa do adversário
Para avaliar sua habilidade.
Concentre sua potência,
Reservando-a para o momento certo.
Mova-se como se o seguisse,
Seja avançando ou recuando.
Nunca esqueça a possibilidade
De capturar a mão do oponente.
Use gravatas e chaves para
Bloquear sua circulação.
Se ele tenta torcer ou prender nossas mãos,
Acompanhe sua aproximação bloqueando-o.
Suavidade quer dizer que
Não usamos força rígida.

Em Aparar, tenha os braços arredondados,
Como se fossem apoiar para cima.
Empurrar e atacar com força vital e circular.
Devemos neutralizar impetuosas investidas,
Protegendo-nos de penetrações ameaçadoras.
Use os dedos: deve-se cravá-los nas partes vitais.
Devemos abaixar para escapar
De empurrões ou de torção dos pulsos.
Continue a acompanhar,
Sem nunca permitir falhas e interrupções.
Ao usar o Pressionar, o cheio e o vazio
Do oponente se revelará;
Aplicando a força de repelir,
A vitória nossa certamente será.




*********************************************









[1]”Cheekbones”= ossos das maçãs do rosto.
[2]No sentido de “verificar”.
[3]Literalmente “engolir”.
[4]"Soft bone".
[5]"Topple". Para empurrar, devemos estar abaixados e enraizados, sem inclinar de maneira alguma, sob pena de perder a estabilidade do golpe.
Características especiais do Taijiquan Estilo Chen
Por Grâo Mestre Zhu Tian Cai
Traduzido para o português por Ronaldo Pedreira Silva.

Externamente aparenta ser suave como uma donzela, ainda que internamente forte como um escudeiro de guerreiro de Buda (Jin gang). Há inúmeras escolas e facções de artes marciais chinesas. Há várias centenas de estilos de pugilismo de mãos vazias isolados. Cada escola tem suas características próprias únicas, mas, sesumidamente, elas podem ser separadas em escolas internas e externas. Artes marciais externas enfatiza golpes com os punhos e os pés, com saltos e pulos, rápidas mudanças de lado, com manobras de ataque e defesa facilmente distinguidas. Com um único olhar, você pode dizer que é uma arte marcial.

O Taijiquan estilo Chen tem diferentes características especiais, ele usa a mentalização para guiar a energia e usa ea energia para mover o corpo. Se a energia interna está tranqüila, então o corpo não se move e está quieto. A energia interna se move e o corpo a segue. Ele usa a energia interna para dirigir o movimento da forma externa, com as partes superior e inferior do corpo conduzindo e seguindo uma a outra continiamente, sem paradas. Ele usa a cintura como um eixo, com movimentos delicados unidos e sucessivos, do início ao fim e internamente a cada movimento, sem rupturas ou resistências. Seu corpo percorre o caminho suavemente e pára calmamente.

O significado do ataque e defesa das formas é mais oculto e não está mostrado na superfície. Isso frequentemente traz um conceito errôneo de que este estilo de pugilismo mais parece uma pescaria do que uma arte marcial. Especialmente a primeira rotina do estilo da “velha estrutura” (lao jia) que é principalmente suave e exige que o corpo relax e não use força bruta. Treina principalmente o gongfu das pernas, de modo a que os pés se tornem as raízes para que os quadris possam girar livremente e a circulação fuir sem impedimentos. A prática traz a energia interna a um estágio de transbordamento. Quando seu pensamento chega neste patamar sua energia interna chega juntamente com ela ao objetivo. A postura é ereta, a posição dos pés, firme e estável (literalmente dando apoio às oito direções de ataque), fazendo com que ambas as partes interna e externa do corpo criem fortes linhas de defesa.

Há “cinco arcos” armados dentro de seu corpo que pode armazenar e liberar energia. Deste modo, você retêm antes de fazer contato com o oponente. Se o oponente é forte, então você pode abruptamente emitir sua energia interna (pegando-o de surpresa), como um estrondo de trovão ou uma repentina rajada de vento. Entretanto, externaemnte, você parece ser suave como uma donzela, ainda que internamente, seja forte como um escudeiro de um guerreiro de Buda. Esta é a principal característica do estilo Chen do Taijiquan.

Um Movimento Interno de Energia num Caminho Circular, Espiralado. Todo mundo tem visto pessoas quebrando tijolos com a cabeça e enrolando barras de ferro ao redor do pescoço. Este é como os praticantes que os praticantes do estilo “duro” do qigong movem sua energia interna. Eles movem sua energia interna até o topo da cabeça e esta pode justamente quebrar o tijolo em pedaços; movendo a energia interna pelo seu pescoço, eles podem justamente enrolar a barra de ferro em torno dele.

O estilo Chen do Taijiquan combina o estudo de dinâmica (força, energia, movimento e o relacionamento entre eles) com a teoria de “jingluo” das teoras da medicina tradicional chinesa (que defende que há canais de energia interna e canais colaterais dentro do corpo). Ele faz uso de um método de espiralemento para mover a energia interna, usando uma pequena quantidade de força para dominar uma grande quantidade de força e usar uma força fraca para dominar uma força forte. Ele é apenas como um elevador que pode levantar um caminhão carregando várias toneladas de carga. O já exposto “Taijiquan muda para trá e para frente entre armazenar e liberar energia (xu fa xiang bian), conduzindo a energia do oponente inofensivamente a uma armadilha” (yin jing luo kong), “usando a própria força do oponente para atacá-lo de volta” (jie li da ren), e “usar cem gramas para desviar uma centena de quilos” (yi si liang bo qian jin), são todos os usos em que a energia espiral pode ser aplicada. Portanto, a teoria do pugilismo determina: “Causar uma surpresa ou conduzir o oponente, é apenas o giro de um círculo”.

Em respeito a teoria jingluo, ele indica o sistema circulatório para sanguee energia interna que preenche o corpo humano e se origina na cavidade abdominal e circula nos membros. Quando o sistema perde sua estase ou equilíbrio, então funções completas do sistema fogem da normalidade e as doenças surgem. Quando o sistema está em harmonia, então o sangue e a energia interna circulam livremente a o corpo é, por maio disso, fortificado e a longevidade é alcançada.

Taijiquan, que é combinado com a teoria do jingluo, inclusive usando combate com mãos limpas com daoyin e tuna juntamente com elementos externos e internos. As posturas e os movimentos do pugilismo faz uso de um espiralamento, estilo do fio de seda (chansi), expandindo e contraindo, alternando movimentos. Ele tem a exigência: “usando o pensamento para guiar a energia interna, usando a energia interna para mover seu corpo” (yi yi dao qi, yi qi yun shen), e a “energia interna deve ser mobilizada (qi yi gu dang), se propagando por todo o seu corpo.”

A energia interna (nei qi) parte do ponto de acupuntura abaixo de seu umbigo (dantien), usa a cintura como seu centro, e penetra sucessivamente por todo o seu corpo, parte a parte. Ela gira levemente, e causa expansão e contração alternadas de seus dois rins. Pela rotação de sua cintura e do torneamento de sua cintura com movimentos circulares e simétricos, ela é liberada por todo o seu corpo.

Passando pelos canais ren e du [ os canais ren e du formam um circuito que começa no dantien, vai ao centro das costas (canal du), subindo ao topo da cabeça e descendo pela frente (canal ren), ao longo da linha central do corpo, retornando ao dantien - ou “pequeno circuito do paraíso”] ela move para cima com o movi mento de sua cintura e volta de seus braços e se move para baixo com a rotação de seus tornozelos e vol ta de seus joelhos. A energia interna assim atinge suas quatro extremidades e então retorna ao seu dantien (i.e. “grande círculo do paraíso”). Ela se move em arcos, torneando livremente e conectando, movimento a movimento o que vem antes com o que se segue, tudo como uma coisa só, resultando em uma circulação de energia interna e sangue. Este é o movimento de energia (energia interna circulante) que é diferente da aplicação de energia. Este método sistemático para movimentação de energia interna está de acordo com os princípios da teoria da medicina tradicional chinesa (jingluo) e raramente é visto em outros estilos de luta ou outras atividades atléticas.

Uma entrevista com Chen Zhenglei

Uma entrevista com Chen Zhenglei
Chinatown - The Magazine Edição Nº 8


Chinatown - The Magazine, em conjunto com a Rádio BBC - GMR Eastern Horizon, encontrou com Chen Zhenglei (CZL), durante sua recente visita a Europa. CZL. CZL é um dos mais notáveis epoentes do Taijiquan (Tai Chi Chuan) na China atual e tem sido reconhecido pelo governo chinês como um dos dez maiores artistas atuais vivos.

A entrevista foi conduzida em mandarim por Nana Feng (NF) de Eastern Horizon. Traduzida por Davidine Sim.

NF: Você pode nos dar uma história concisa do Taijiquan?

CZL: Taijiquan tem uma história de várias centenas de anos. Há lendas sobre um certo Zhang Sanfeng de Wudang ser o criador do Taijiquan, mas isto está mais para o reino do folclore. Pesquisas históricas confiáveis determinam que o Taijiquan surgiu em Chenjiagou (Vila da Família Chen), na Provícia de Henan. Chen Wangting, Da nona geração da família Chen criou o Taijiquan baseado nas artes marciais da família. Chen Wangting era um estudioao, além de um guerreiro. Com base no sistema marcial da família, ele incorporou os estudos do princípio Yin-Yang, da teoria jingluo (canais e meridianos) da Medicina Tradicional Chinesa, a arte de daoyin/tu-na, que hoje é conhecido como qigong, e a observação do fluxo da natureza e fisiologia do corpo humano para criar o que é conhecido como Taijiquan. Na décima-quarta geração ele foi ensinado para pessoas fora da família, e daí se ramificou em quatro outros principais sistemas de estilos Yang, Wu, Wu (Hao) e da família Sun.

NF: O quanto voc~e acha que o estilo Chen do Taijiquan é hoje?

CZL: Nos últimos vinte anos, seguindo a abertura da China, o contato com o mundo exterior é agora um lugar comum. Tem havido um aumento no número de visitantes à China para “buscar a raiz”, “investigar a família”, “buscar um mestre”, “aprender a experiência” e “ver com os próprios olhos”. Isso tem permitido um aumento no interesse sobre a cultura chinesa, especialmente o Taiji tradicional, que é uma arte representativa da China. Pessoas têm vindo a China para perceberem que o Taiji não é um wushu (arte marcial) comum, mas é cercada de profundos valores culturais. Através do estudo do Taiji as pessoas podem vir a apreciar uma excelente cultura antiga, especialmente a filosofia de mudança - estudo do Yin-Yang contido no Yijing. Taijiquan não é a intensificação da saúde, refinamento, busca de lazer, auto-defesa; é um princípio completo de melhoria de qualidade de vida que tem sido adotado por inúmeras pessoas. Neste tempo de relativa saúde econômica, as pessoas estão em busca de atividades que permitam maior vitalidade, lazer e tranquilidade. Taiji se encaixa exatamente aí. Com o aumento do fluxo de pessoas para a China para aprender estas experiências, o governo chinês tem auxiliado e promovido o Taiji. O atual 7º Festival Nacional de Taiji alcançou um grande sucesso, acompanhado por mais de 10 mil espectadores, visitantes e competidores, e transmitido pela principal TV nacional, bem como todas as estações de TV provinciais. Taiji será um dos esportes de demonstração de wushu (arte marcial) nos Jogos Olímpicos de 2008, com grande chance de futuras inclusões nos Jogos.

NF: Como o Taiji se tornou muito popular, haverá pessoas inescrupulosas e desqualificadas que explorarão a situação, utilizando superstições e misticismo no meio de autênticos praticantes. O que você acha disso?

CZL: Na China há um ditado: “Uma curva não pode dominar uma reta”. É importante ter o método correto. Eu acredito que se há a presença do caminho verdadeiro, então será mais difícil ao caminho errado tomar pé. Outra coisa é a educação. Com a educação correta, as pessoas são menos passíveis de serem enganadas.

NF: Você pode nos dar alguns conselhos de como aprender Taiji - os sins e os nãos?

CZL: As percepções das pessoas quanto ao Taiji freqüentemente estão erradas. Elas acham que é uma atividade de velhos, e os movimentos parecem “sentindo seu caminho no escuro” ou “tateando por peixe na água”. Este não é o objetivo do Taiji. O Taiji requer que a pessoa esteja “song, rou, man” (desprendida, maleável, vagaroso). Seus critérios são diferentes de outros wushu, com seus próprios aspectos marcais de força e velocidade, movimentação de punhos e golpes de pernas. Taijiquan é um sofisticado neigong quan (arte marcial interna) de alto nível. A fim de alcançar seus maiores objetivos, as exigências de treinamento são diferentes. “Song, rou, man” são métodos de treinamentos, não o seu objetivo máximo. Por que nós necessitamos disso? Porque nós somos limitados pelo que é tido como qi pós-natal - a energia que é adquirida após o nascimento para sobreviver no mundo - para crescer, viver, trabalhar duro. Este qi é absorvido do alimento que comemos, da água que bebemos e do ar que tomamos do nosso ambiente. Essa armadura resistente é para a labuta diária, e diferente da resistência que esperamos nos blindar com a prática do Taiji. Nós devemos primeiro liberar o corpo da força inflexível exigida para trabalhar a fim de recuperarmos nosso qi pré-natal protetor - portanto o “song, rou, man”. “Song” (desprendimento) a fim de adquirir elasticidade e vigor, “rou” (maleabilidade)a fim de adquirir uma proteção de força metálica; e “man” (lentidão) a fim de cultivar a velocidade.

Uma vez compreendido isso, você precisará de instruções apropriadas e então prosseguir a estágios de progressão, antes de atingir seus objetivos. Uma série de enganos se levantam da prática lenta do Taiji.

NF: Onde as pessoas podem achar instrução?

CZL: A afirmação oficial chinesa diz, “Taijiquan estilo Chen é um recém-chegado que tem se superado”. Taijiquan estilo Chen tem sido o mais conhecido e largamente praticado, particularmente seguindo a criação e a promoção dos 24 Passos Simplificados aprovado pelo estado. Nos últimos vinte anos, contudo, muitos devotos iniciaram o rastreio da raiz do Taiji e a trilha que os leva a Chenjiagou, onde eles vêm a verdadeira face do Taiji. Estudantes estimulados pelos professores de Chenjiagou estão agora pelo mundo promovendo a arte, e a um grande público tem agora o conhecimento do estilo Chen, com suas características únicas. Ele compartilha com outros estilos a linha de movimentos lentos, suaves, fluidos e confortáveis, mas tem mantido as características originais de alternar o lento com o veloz, o suave com o forte, e a vivacidade com o solto, elasticidade e maleabilidade, saltando e pulando, juntamente com movimentos oscilantes espirais, distingue-o de outros. Por isso, quem tem rastreado o ancestral do Taiji, ele tem se tornado uma paixão ardente.

Conexão Tan-Tien

CONEXÃO TAN-TIEN
Chen Xiao Wang
Síntese de artigos de Marvin Smalheiser, na revista Tai Chi
Coordenar a energia do "tan-tien" ("dantian") com o resto do corpo através de movimentos corretos é a chave para o emprego eficiente de poder neutralizador na prática do Tai Chi Chuan. E o meio correto de conectar a energia do tan-tien com o corpo todo é a prática do "chan ssu jin" ("desenrolar o fio da seda"), ou seja, a energia espiralada que torna possível mobilizar o corpo inteiro em cada movimento, seja avançando ou recuando. O tan-tien é a área situada no baixo ventre (três dedos abaixo do umbigo), e é o principal centro de energia e fonte de força interna do organismo. A força surge a partir da área do tan-tien. O tan-tien, em si, não tem muita força, mas quando ele coordena o resto do corpo, então você tem uma força considerável como resultado. Você inicia o movimento a partir do tan-tien e a energia do tan-tien comunica-se com todo o resto do corpo. Aí sim, a energia torna-se uma força poderosa.
A força espiralda entra em ação quando você causa uma rotação do tan-tien da esquerda para a direita e então empurra-a para o corpo todo, ao mover-se da esquerda para a direita. Isto gerará a força. O corpo então empurrará as mãos, as quais expressarão poder. Uma vez que o tan-tien se mova, ele empurrará as mãos de acordo, depois de treinamento apropriado. O tan-tien é como o centro de um círculo ou esfera. Uma vez em movimento, todo o corpo responde ao estímulo. Quando ele começa a rodar, você conecta o tan-tien, músculos e ossos com os pés e as mãos, e eles começam a mover-se conjuntamente. Se a mão move-se por si mesma, isto não é correto. O mesmo se aplica às pernas. Seguindo o diagrama do Tai Chi, todo o corpo é coordenado. Trata-se de um movimento tridimensional, com o tan-tien dirigindo harmonicamente cintura, pernas, joelhos, pés, etc. Os movimentos podem se dar em mais de um eixo simultaneamente. Por um lado, há um movimento espiralado, mas há também um movimento de avanço e retorno, e o resultado da união de dois ou mais eixos é o movimento tridimensional. A mente é a primeira a mover-se e, então, simultaneamente, move a cintura e o tan-tien. Entretanto, a mente não pode mover o tan-tien primeiramente, ela deve mover a cintura, permitindo que esta venha a mover o tan-tien. Além disso, o tan-tien deve se manter relaxado, pois, se houver contrações ou rigidez, a energia estará bloqueada nessa área.
O movimento da mão ou da perna não são, em si mesmos, tão poderosos assim. Mas, se você usar o tan-tien e sua energia para coordená-los, através dos músculos tendões e ossos, tornar-se-ão muito poderosos. O Tan-tien é fortalecido e treinado pelas posturas imóveis (zhan zhuang - postura de abraçar a árvore) e pela correta execução e alinhamento das posturas do Tai Chi. A energia, o "chi" ("qi"), é, em si mesmo, bem fraca. Ela não pode por si mesma causar muito movimento. Por outro lado, o músculo sem o "chi" também não pode realizar um trabalho de valor. O tan-tien, através do "chi", comunica o movimento ao músculo e este, aos tendões e ossos. A comunicação se dá através dos canais meridianos (jingluo) que percorrem todo o corpo. É como um terminal de trens: há "chi" no corpo todo, mas é no tan-tien que tudo passa e se distribui. Quando a energia flui do tan-tien para um lugar qualquer, como a mão, podemos dizer que o tan-tien está operando em modo "Yang". Quando o "chi" provém das extremidades para o tan-tien, este age em modo "Yin".
Num primeiro estágio, metade da mente concentra-se no movimento e suas conexões, e outra metade pode abrir-se para sentir o corpo. Num segundo momento, metade da mente observa o movimento, e a outra metade observa o fluir do "chi". Em nível avançado, os canais do corpo estão funcionando e você não tem mais que observar o movimento de energia. Você começa, então, a imaginar como pode o oponente atacar, e as possibilidades de contra-ataque com seus movimentos. Você só se ocupa de aplicações das posturas no estágio avançado, porque então a energia move-se livremente pelo corpo. Não importa, no entanto, qual seu nível de desenvolvimento: o importante é não focalizar a atenção num único ponto do corpo. Deve-se estar atento ao corpo como um todo, e não às suas partes separadamente.
Muita gente exagera na prática das posturas do estilo Chen. Os movimentos excessivamente largos levam a uma separação de uma parte do corpo em relação ao todo, o que é muito incorreto. Na prática da nova forma (xin jia), é frequente o exagero nas posturas, além de um excesso de pequenos círculos e "loops". Isso demonstra falta de entendimento do "chan ssu chin".
Há dois tipos de práticantes incorretos. Os que conhecem os princípios dos movimentos, mas ainda não são capazes de expressá-los corretamente, podem progredir com muito treino. Já os que pensam que conhecem bem os princípios e acham que movimentos exagerados são corretos, demonstrando sua ignorância dos verdadeiros princípios, quanto mais treinam, mais distantes estarão do objetivo.
A respiração do Tai Chi envolve certos princípios. O ataque e expansão são acompanhados de expiração, enquanto que defender, recuar, recolher são acompanhados de inalação. No entanto, como os principiantes não estão suficientemente familiarizados com as posturas, praticando-as incorretamente e aplicando força de modo inadequado, eles não devem, de modo algum, controlar a respiração. Tudo que você tem a fazer é deixar que o corpo regule por ele mesmo a respiração, de acordo com suas necessidades. Se você tentar controlar a respiração incorretamente, provavelmente prejudicará o organismo, ao invés de ajudá-lo. Deve-se então respirar naturalmente, baseado apenas nas respostas do corpo às sua próprias necessidades. Isto é muito importante. a respiração é sua melhor e mais honesta amiga.
Quando praticamos a meditação em posturas imóveis, nosso objetivo é manter o centro do "chi". Na meditação imóvel, buscamos a percepção do tan-tien. No alto da cabeça, deve haver a sensação de algo puxando levemente para cima. Alternativamente, você pode sentir alguma coisa muito leve no topo da cabeça, mas sua cabeça deve manter a estabilidade, ou tal objeto poderia cair. O foco da audição deve ser dirigido para as costas. Você então sentirá o "chi" descer em direção ao centro. Nesse ponto, deve haver a percepção de uma mente bastante clara. O corpo, por sua vez, deve manter uma linha reta entre orelhas, ombros, quadris, até os calcanhares. E por que queremos esta linha reta? Porque ela irá manter nosso equilíbrio. Assim, não precisaremos usar a musculatura que rodeia o tan-tien. O tan-tien poderá, então, permanecer relaxado, o que permite que o "chi" circule pelos órgãos internos. Depois, o "chi" circula dos órgãos internos para o tan-tien. Se você sentir que seu peito está bem solto e relaxado, e seu tan-tien está pleno de energia, saiba que esta é a sensação correta. O erro mais comum é contrair a musculatura em torno do tan-tien, o que indica que este está "fechado". Nesse caso, o "chi", impossibilitado de se dirigir ao tan-tien, migrará para o peito, causando uma desagradável sensação de "cheio" no peito. Se a pessoa corrige sua postura, nota imediatamente que o chi retorna ao tan-tien, adquirindo um senso de estabilidade. Se a postura é correta, pode-se sentir um leve aquecimento dos rins, o tan-tien tornando-se "cheio" e o corpo inteiro energizado.
A prática do Qigong ("Chi-kung") tem resultados semelhantes: o "chi" parte do tan-tien e dirige-se para as várias partes do corpo, e depois a energia percorre o caminho de volta, do corpo para o tan-tien. Mas o Tai Chi Chuan já um completo sistema de "qigong", dispensando qualquer outra prática do gênero. Tai Chi é uma sequência de qigong muito completa mesmo. Além do mais, Tai Chi é uma arte marcial digna do nome "arte". É, portanto, um treino bem mais complexo e completo do que "qigong". _______________________________________________________________________________

CHAVES PARA O TREINO DO ESTILO CHEN

CHAVES PARA O TREINO DO ESTILO CHEN
Mestre Chen Zheng Lei
Síntese de artigos de Marvin Smalheiser, na revista Tai Chi

Para se atingir um alto nível de treino do Tai Chi é fundamental que se tenha um objetivo bem definido, além de um claro entendimento. Sem o primeiro passo de compreensão, pode-se praticar por muito tempo, ou mesmo uma vida inteira, sem que uma indesejável rigidez seja completamente eliminada. Por causa disso, a maioria dos praticantes jamais chega a cruzar o portal para vivenciar níveis mais elevados do Tai Chi.
Tão logo o estudante entende e começa a trabalhar a energia pré-natal (uma forma de energia interna), ele começa a transpor o portal. Trata-se de desenvolver a energia que é o fundamento de nossas vidas. A energia pré-natal é inerente, é nossa energia original. A criança a recebe dos pais e é cultivada pelos adultos através de práticas internas, como a meditação ou o Tai Chi. Por outro lado, a energia proveniente da comida e de nossas atividades diárias é a energia pós-natal, de caráter predominantemente físico.
Energia pós-natal usada em combate é muito lenta e inflexível. Já o uso da energia pré-natal disponibiliza uma quantidade muito maior de energia para qualquer finalidade. A energia original é aquela a qual nos referimos quando trabalhamos o "enraizar" fisicamente. Qando a raiz é firme e a energia original é intensa, a pessoa é muito poderosa e pode trabalhar mais efetivamente por muito mais tempo.
Sempre que se fala em Tai Chi, diz-se que é algo muito relaxado, de movimentos lentos e suaves. Mas as pessoas pensam que mover-se lenta e relaxadamente é nosso objetivo final. Não, o primeiro estágio é, de fato, livrar-se de rigidez e inquietação, daí a necessidade de movimentos lentos e suaves, mas isto é apenas o primeiro estágio! O objetivo é, na verdade, um completo envolvimento da mente e do corpo, seja com objetivo de saúde, auto-defesa ou mesmo recreação. E no que se refere à saúde, estudos modernos comprovam os benefícios para o sistema nervos, circulatório, digestivo, respiratório, além do fortalecimento de músculos, tendões e ossos.
Inicialmente, o aprendiz deve se preocupar em aprender as posturas corretamente, livrando-se de rigidez e tensão. Então, deve aprender a soltar o corpo. É neste ponto que ele começa a entender que os movimentos surgem de dentro do corpo. Em seguida, o estudante deveria atingir um estágio em que ele pode abrir os canais dos meridianos do corpo, permitindo que o "chi" comece a fluir sem obstrução. Somente quando chegam a este nível, quando a energia interna flui livremente e todos os meridianos encontram-se abertos, podem os alunos começar a coordenar os aspectos internos e externos do corpo. E eles começam a coordená-los através da respiração.
No início do treinamento, a respiração é normal, através do nariz - respiração natural. Mais tarde, ela transforma-se em respiração interna. Quando se diz "coordenar os aspectos internos e externos do corpo com a respiração", está implícito tratar-se da respiração interna. No entanto, respiração interna e circulação de energia interna são coisas diferentes. A respiração interna ajuda a coordenar o fluxo de energia através do corpo. A respiração interna é difícil de ser compreendida, mas pode-se perceber quando ela ocorre. Para alguém que praticou um longo tempo corretamente, nem é necessário explicar muito detalhadamente. Você só precisa dar uma referência ou uma dica e o estudante capta a idéia com facilidade.
O estilo Chen produz três níveis de habilidade, representados por ming jing (energia visível), an jing (energia oculta), e hua jing (energia de neutralização). No primeiro estágio, o iniciante treina e sua energia pode ser claramente observada por outros. Depois de algum tempo, essa energia visível torna-se oculta no corpo - neste ponto, a energia está circulando dentro do corpo. Parte dessa energia é a intenção do movimento. Os movimentos têm grande poder, mas o praticante não quer mostrá-lo. A energia de neutralização está presente no nível mais elevado. Pode-se neutralizar a energia do oponente, ou conduzir sua energia para o vazio, fazendo com que ele perca o equilíbrio. Pode-se, então, fazer o que quiser com o adversário. Quando ele é incapaz de encontrar nosso centro de equilíbrio e não pode estar certo de onde estamos, seja física ou mentalmente, ele já foi derrotado. Uma vez que ele já foi mentalmente derrotado, podemos empurrá-lo ou abatê-lo com facilidade. Quando se chega neste estágio, qualquer parte do corpo poderá responder a um ataque, como se fosse um soco.
Chen Chang Xing, o professor de Yang Lu Chan, falava em três níveis de desenvolvimento. O primeiro é praticar e entender o que é o Tai Chi Chuan, certificando-se de que posturas e idéias estão claras. O segundo é o ponto em que se entende o Tai Chi na própria prática. O terceiro é utilizar o Tai Chi livremente, vivenciando-o num maravilhoso nível de mistério.
Os estudantes do estilo Chen que querem ser bem sucedidos devem adotar cinco atitudes e três condições. Devem ter uma atitude respeitosa, auto-confiança, determinação, continuidade e disposição para um trabalho duro. Já as três condições, envolvem professores, alunos e a prática. O instrutor deve ser suficientemente hábil, entender bem os princípios e ser capaz de transmiti-los, além de saber como treinar seus estudantes. O estudante deve ser inteligente, ter a habilidade de imitar corretamente as posturas apresentadas, assim como absorver com facilidade e rapidez as instruções fornecidas pelo professor. Enfim, a relação entre instrutor e alunos deve ser a melhor possível. Mas a condição mais importante diz respeito à própria prática. Deve-se praticar mesmo em condições desfavoráveis. Mas não é só a quantidade do treino que conta, a qualidade também tem que ser acentuadamente elevada. É claro que se a pessoa quer somente um benefício de saúde e um treino leve, não há necessidade de treinar tanto. Tudo depende do objetivo do estudante.
Para aqueles que buscam saúde no Tai Chi, já estão suficientemente demonstrados os benefícios do sistema nervoso, reduzindo tensão e facilitando a recuperação do stress, principalmente daqueles que trabalham com a mente. Depois de um dia inteiro de trabalho, seus cérebros frequentemente deixam de funcionar com eficácia. Se eles puderem dedicar uma hora à prática, ou mesmo 30 minutos diários, isto será capaz de renovar suas mentes, aliviando o sistema nervoso. Não é necessário fazer a rotina completa; nesse caso, alguns movimentos simples terão o efeito desejado. E, para este fim, exercícios de "qi-gong", "zhan zhuang" (meditação imóvel, "postura de abraçar a árvore") ou rotações do "tan-tien" ("chan su chin", desenrolar o fio da seda) serão igualmente bem sucedidos.
Outro benefício importante refere-se ao sistema digestivo. Quando uma pessoa tem problemas digestivos, o mais comum é que seus órgão internos não estejam funcionando a contento. Com a prática dos exercícios, esses órgãos funcionarão bem melhor. No mesmo sentido, o sistema circulatório é favorecido. O treino do "chan su chin" ("desenrolar o fio da seda") faz que que ossos e tendões movam-se espiraladamente. Esse movimento de espiral praticamente dobra a circulação do sangue. Uma vez que o sangue circula suavemente, ele não estagnará, o que causaria toda uma série de doenças. Os que praticam regularmente começam a notar uma redução no ritmo de batimentos cardíacos e um aumento no volume do sangue circulando. Isto é particularmente benéfico para aqueles que têm problemas de hiper-tensão.
O sistema respiratório é beneficiado pelo treino de respirações lentas, longas, suaves e profundas. Além disso, como o Tai Chi normalmente é praticado em ambiente externo, em parques, na proximidade de árvores, só isso já garante uma quantidade boa de oxigênio puro, o que certamente ajudará pessoas com problemas nos pulmões. E, uma vez que atingem um nível mais avançado, começam a praticar a "respiração reversa", que aumenta consideravelmente a capacidade pulmonar. A média geral das pessoas é de 12 ciclos de respiração por minuto. Cultivando chi e meditando, pode-se baixar isto para 2 ciclos por minuto. Ainda outro efeito da prática é melhorar o "tonus" muscular, fortalecendo-os, juntamente com os ossos, devido aos movimentos de espiral. A densidade dos ossos aumenta, os músculos se fortalecem e a pele se torna mais resistente, reduzindo as chances de distúrbios da saúde.
Há métodos para aumentar as habilidades interiores dos estudantes. Não há segredo: fazer as rotinas um pouquinho mais lentas e abaixadas e repeti-las mais vezes. Outro bom meio é praticar com o bastão. O bastão fortalece o físico e a força interna, pois os movimentos são feitos com o braço, com a cintura e o "dantian" (tan-tien). Outro ainda melhor é a prática de meditação imóvel (zhang zhuang), que pode ser feita na postura do cavalo, postura vazia ou postura de arco. Deve-se procurar a tranquilidade da mente: um jeito é colocar a mente no tan-tien; outro é ouvir a própria respiração. Pode-se ainda contar números silenciosamente. O mais importante é manter o corpo completamente relaxado, o que permite que a energia vá para as pernas, que usarão somente a força necessária para manter a posição correta.
Quanto ao "chan ssu jing" (energia de enrolar o fio da seda), costuma-se dizer que é energia espiralada, mas isto é apenas uma referência para o verdadeiro significado. Não basta apenas rodar determinada parte do corpo de um certo modo para adquirir "chan ssu jing". Uma vez em movimento, a energia flui pelo corpo, combinando-se com a movimentação, mas não há um padrão estabelecido para o fluir da energia. Pode-se emiti-la para fora, mas ela não seguirá em direção reta, mas sim numa rota espiralada. É disso que tratamos quando dizemos "energia espiralada".
No clássico livro de Chen Xin, ele descreve o chan ssu jing como um "chi" (energia) interno, que se origina nos rins, mas que existe no corpo todo, crescendo e alcançando os quatro membros e entrando pelos nove orifícios (olhos, nariz, boca, etc.). Esta energia torna ossos, tendões e ligamentos mais fortes. Mais que isso, fortalece o corpo todo e, de um modo geral, evita-se muitas doenças, prolongando a vida.
Chen Xin menciona três principais efeitos do chan ssu jing. Pode agir como uma energia rotatória, que repele qualquer outra energia de abordagem. O corpo está cheio de energia e é extremamente ágil. Mesmo que o oponente venha muito rápido em determinada direção, tão logo ele toque o corpo será atirado para longe. Se ele atacar lentamente será repelido lentamente, mas se atacar rapidamente, será atirado ainda mais rápido. Chan ssu jing pode ser também uma energia penetrante, muito utilizada com um soco, chute ou golpe com o cotovelo. A energia em espiral aumenta o poder de penetração dos golpes. Finalmente, em seu nível mais elevado, trata-se de energia neutralizadora. Pode-se sentir a energia do adversário, percebendo qual parte de seu corpo é a mais fraca. Mesmo que ele tente utilizar avançadas técnicas de chaves e alavancas, podemos sentir qual é a parte mais deficiente de seu corpo, e tão logo percebamos isso, a energia espiralada irá direto para lá.
O modo mais eficaz de se adquirir força interna é praticar as posturas corretamente. No começo, não pense em adquirir energia interna. São frequentes as perguntas dos iniciantes como "qual a intenção interna desse movimento", "como é a respiração nesta hora", ou "como aplicar este golpe", antes mesmo que aprendam e memorizem confortavelmente a sequência. É muito cedo para esse tipo de perguntas. É como um estudante primário querendo saber matemática de nível universitário. É verdade que o estudante precisa de alguma informação para estimular sua mente, mas ela deve ser fornecida com moderação, passo a passo, sem queimar etapas. Quanto a prática de "qi gong" (chi-kung: treinamento de energia interna), não entra em conflito com o Tai Chi, porque Tai Chi é, em si mesmo, "qigong". Antigamente, qigong era conhecido como "neigong" (simplesmente "treinamento interno"), ou "daoyin tuina". Tai Chi é uma arte marcial interna e, enquanto tal, tem como objetivo principal o cultivo do "qi" ("chi-energia").
Sem "qi", não se trata mais de "Tai Chi". E se a pessoa deseja conhecer as maravilhas do Tai Chi, deve começar por livrar-se de toda e qualquer tensão no corpo todo, o que não é uma coisa fácil de conseguir, já que a vida diária solicita o uso de energia muscular, consolidando maus hábitos.
Além disso, deve se livrar de certos preconceitos. Uma vez que Tai Chi é uma arte marcial, as pessoas recusam-se a acreditar que podem derrotar oponentes sem o uso da força. Temos que primeiramente corrigir o entendimento do estudante. Não suficiente, temos que conduzi-lo a sentir em caráter experimental o que queremos dizer com isso. Mesmo estudantes experientes podem ter grande dificuldade de entender o verdadeiro sentido do relaxamento, quando então, finalmente, os meridianos se abrem, permitindo o livre fluxo da energia.

sábado, 27 de dezembro de 2008

A Respiração no Taijiquan

A Respiração no Taijiquan ( tai chi chuan)
Existem hoje muitas pessoas que continuam confusas de como devem respirar enquanto praticam Taijiquan. Alguns Mestres ensinam os alunos a respirar naturalmente, outros dão ênfase à respiração abdominal normal, enquanto que muitos outros afirmam que só a respiração abdominal inversa é que está correta. Neste artigo gostaria de resumir algumas das minhas conclusões acerca da respiração no Taiji, baseadas na minha compreensão nos muitos dos livros de Taiji e Qigong que li, e na experiência acumulada de 28 anos de Taiji e Qigong. Espero que este artigo vos possa libertar de alguma confusão.
Primeiro, vamos tomar em consideração a respiração normal. Quando praticam Taijiquan com este tipo de respiração, a mente não tem que estar focada na respiração. Isto é especialmente importante para os iniciantes. Nessa fase eles devem prestar atenção prioritariamente à regulação do corpo para um estado mais relaxado, centrado e equilibrado.Uma vez regulado o corpo, devem aprender a respiração de modo a tornar-se mais eficiente. A respiração é considerada como sendo a vossa estratégia no Qigong Chinês. O modo como coordenam a respiração permite-vos regular o corpo e guiar o vosso Qi eficientemente.
Existem duas maneiras usuais de respirar no Taiji: a primeira é chamada “respiração abdominal normal” ou “respiração Budista,” enquanto que a outra é chamada “respiração abdominal inversa” ou “respiração Taoista.” Na respiração abdominal normal, quando inalam o abdômen (ou Dan Tian) expande-se, e encolhe quando exalam. Normalmente é mais fácil manter o corpo relaxado e sentirem-se confortáveis com a respiração abdominal normal, como tal é o método mais usado por aqueles que treinam Taiji apenas para a saúde. Em relação à respiração abdominal inversa, muitos praticantes de Taiji de hoje acreditam erradamente que a técnica da respiração inversa está contra o caminho do Tao, isso não é verdade. Experimentem este exemplo simples: coloquem uma mão no abdômen, e posicionem outra na vossa frente como se empurrassem algo. Inalem profundamente, e enquanto exalam imaginem que estão a empurrar um objeto pesado. Irão ver facilmente que, quando tentam empurrar ao máximo, automaticamente usam a respiração inversa. Este é o método usado freqüentemente nas competições de halterofilismo. Os competidores muitas vezes usam um cinto grosso para suportar o abdômen e aumentar a potência.

A racionalidade para a respiração inversa é bastante simples. Podem guiar um fluxo de Qi muito mais forte se, simultaneamente, dirigirem outro fluxo de Qi para o Dan Tian. Isto está de acordo com uma lei básica da física a qual cita que: para qualquer ação tem de haver igual e oposta reação. Se ainda não estão convencidos, tentem outra experiência: encham um balão enquanto colocam uma mão no abdômen para verem como este se move.Podem ver através destas experiências que a respiração inversa está de acordo com o Tao. Deve ser usada sempre que é necessário guiar o Qi aos membros para manifestar-se potência eficientemente, por exemplo, para lutar. Porque a respiração inversa expande o Qi e energiza o corpo é considerada Yang, em comparação com a respiração normal que é Yin. Podem ver a partir desta discussão que tanto a respiração abdominal normal como a respiração abdominal inversa estão corretas, dependendo da vossa intenção. É igual à maneira como respiram no vosso dia á dia. Vocês devem entender que a maneira como respiram é afetada pelos vossos pensamentos e emoções. Por exemplo, se pensarem em algo assustador, naturalmente a tendência será para suster a respiração. Quando estão tristes, as inspirações são maiores do que as expirações, e quando estão excitados, as expirações são maiores do que as inspirações. Quando estão relaxados, a respiração torna-se uniforme e natural, a cada inspiração o abdômen move-se para fora, e na expiração para dentro.
No entanto quando têm a intenção de manifestar força, ou apenas pensarem em fazê-lo, automaticamente mudam para a respiração inversa.Teoricamente, a respiração abdominal normal torna-vos relaxados e permite ao Qi mover-se suavemente, e a respiração abdominal inversa torna-vos tensos e excitados, o que permite ao Qi ser manifestado no corpo físico. A partir disto podem ver que a respiração abdominal normal pode tornar o corpo físico e emocional calmos, como tal é considerada uma pratica Yin. Naturalmente a respiração abdominal inversa pode tornar-vos excitados e energizados, e é considerada Yang.Eu como tal sugiro que, se estão mais interessados no aspecto da saúde do Taijiquan, então devem dar ênfase à respiração abdominal normal. No entanto, se praticam Taijiquan como arte marcial, têm também de praticar respiração abdominal inversa e aprender como guiar o Qi de forma eficiente para os membros.

Escrito por Dr. Yang Jwing Ming /YMAA NEWS nº18, 15 de Junho de 1991

Alquimia Taoísta


Alquimia Taoísta
Por: Anderson Rosa


A alquimia taoísta é conhecida por muitos pela expressão "o amarelo e o branco". Longe de ser apenas uma expressão simbólica, ela significa tanto a transmutação dos metais em ouro, quanto o processo da alquimia interna. No entanto, devemos aqui fazer uma ressalva de que esta alquimia interna não tem nada em comum com os pseudo-processos de alquimia mental ou alquimia espiritual tão em moda nos dias de hoje, que só servem para cegar ainda mais o buscador. Lembramos pois, que só existe uma alquimia capaz de conduzir à verdadeira transmutação, e esta não é a alquimia de livros ou de embusteiros, mas sim a alquimia prática. Por prática definimos aqui o tipo de alquimia que se serve da experimentação, seja com um laboratório equipado para tal, com retortas, fornos, alambiques, seja do tipo que se utiliza do corpo como laboratório. E é justamente deste segundo tipo de alquimia que falaremos aqui.

Esse tipo de alquimia, também é chamado de Yoga Taoísta (Qigong). Nos livros atribuídos à alquimia taoísta, é comum o uso das expressões como fornos e caldeirões. Muitos desconsideram essas alusões, por acreditarem tratarem-se apenas de analogia, descartando o resto como irrelevante. Mas é importante salientar que muitos textos usam tais expressões representando os caminhos dos Meridianos da Acupuntura ou ainda pontos específicos dentro do sistema de meridianos e da teoria dos 5 elementos. Um exemplo claro disso, pode ser visto num trecho de obra antiga: "Seja o Tai Hsu [O Grande Vazio] teu caldeirão; seja o Tai Ji [Princípio Dinâmico da Harmonia da própria Natureza] tua fornalha. Para ingrediente básico, toma a serenidade. Para reagente, toma o wu wei, a não-atividade. Para mercúrio, toma teus dons naturais [de Jing, Qi e Shen], para chumbo, toma tua força vital. Para água, toma contenção. Para fogo, toma meditação. Está escrito que o verdadeiro elixir assim composto, se de qualidade inferior, assegurará longevidade e manutenção do vigor juvenil; se de qualidade superior, habilitará o adepto a 'transcender o mundo dos mortais e atingir a santidade'".

Existem 3 tipos de energia poderosas permeando o universo: Jing, Qi e Shen. Tais energias representam o surgimento do ser no pleno vazio, a ascensão e o desvanecimento das dez mil coisas, como define o Tao Te King. Na sua forma original, tais energias são extremamente poderosas e puras, capazes de provocar transmutações profundas. No homem, no entanto, somente pessoas realmente iluminadas conseguem usar tais energias adequadamente.

O homem, assim como todas as coisas existentes, possui certa parcela de cada um desses 3 tesouros. No entanto, devido ao ritmo de sua existência e seu inerente desequilíbrio, essas energias tornaram-se grosseiras, e precisam antes de serem trabalhadas com propósitos de iluminação espiritual, serem novamente purificadas ou filtradas, de forma a retirar delas toda a ganga existente.

Abaixo, reproduzo uma tabela de John Blofeld, do seu livro: "Taoísmo, A Busca da Imortalidade", que permite uma ligeira compreensão dos 3 tesouros a serem recuperados:

Os Três Tesouros :

Jing (Essência)

Forma RudimentarNão exatamente idêntica, mas intimamente associada aos fluidos sexuais masculino e feminino, que o veiculam.
Forma SutilInterior, dá a matéria sua forma tangível e sua substância.
Forma Cósmica (Yang)Pertinente ao cosmos, dá forma tangível ao que originalmente que era vácuo indiferente.

Qi (Vitalidade)

Forma RudimentarNão exatamente idêntica, mas intimamente associada ao ar que flui pelos pulmões, rins e poros, que o veiculam.

Forma SutilVitalidade indistinta (exceto devido à localização temporária) de sua contrapartida cósmica.

Forma Cósmica (Yang)Vitalidade cósmica vista como tê, virtude do Tao de que todas as coisas estão imbuídas.

Shen (Espírito)

Forma Rudimentar /Espírito ainda não depurado das impurezas dos sentidos e dos pensamentos errôneos.

Forma Sutil / Espírito impoluto, livre da contaminação das paixões e do desejo sensual.

Forma Cósmica (Yang) / Espírito cósmico, vazio puro, indiferente.

Nos textos taoístas, tais termos podem aparecer com um significado devidamente explícito, ou em outras vezes com significados mais nebulosos, sendo que nem sempre se consegue distinguir com clareza qual o sentido mais objetivo a que o texto se refere. Por isso no caminho da Alquimia Taoísta, assim como em outros caminhos da espiritualidade, surge a necessidade de um mestre, sem o qual, todos os textos tornam-se incompletos. As lacunas existentes são passadas oralmente de mestre a discípulo. Existem formas também para cobrir essas lacunas que dispensam um mestre em determinado ponto, porém, não trataremos dessas vias e de sua explicação neste breve ensaio.



A Teoria da Alquimia

Existem inúmeros textos que versam sobre a alquimia taoísta, mas semelhantes aos textos da alquimia ocidental, são textos cujo significado na maioria das vezes não é claro e compreende uma profunda compreensão cultivada anteriormente na longa jornada que conduzirá até a imortalidade. Como já dissemos noutro lugar, o conceito de imortalidade taoísta é um tanto diferente do ocidental, cuja definição de imortalidade é 'viver para sempre'. No taoísmo, define-se a imortalidade como viver plenamente, sem desejo, com qualidade, até o momento da partida. E nesse caso, os textos taoístas defendem que um ser humano consegue atingir a idade de 600 anos através dessas práticas. Logo, a imortalidade taoísta não é um 'viver eternamente', mas sim poder optar pelo momento de morrer. Ou seja, a morte é uma opção e não uma obrigação.
Ainda sobre a imortalidade, creio ser uma citação importante, uma conversa entre Blofeld e um eremita no inverno de 1935:

"Tudo o que fazemos é cultivo. Quanto ao Yoga (Yoga Taoísta) e à meditação formais, praticamo-los nas primeiras horas do dia e à noitinha. Não há regras, portanto nada que bloqueie ou prejudique a auto-satisfação. O segredo consiste em sentir quando determinada ação é oportuna e concorde com o Caminho. É uma questão de... como direi?... Ah, sim, de aprender a ser!" - "Não têm aborrecimentos, angústias?" - "Senhor, deve estar brincando! Somos apenas humanos. Os males acontecem. Mas aprendemos que eles passam, como tudo passa. Quando estamos doentes ou sem dinheiro para as necessidades mínimas, sentimo-nos ansiosos; entretanto, com a repetição desses incidentes, aprendemos a aceitar o mal e o bem, a vê-los como são: partes do ser, que não se podem dispensar sem prejuízo para o todo".- "E quando fica doente, imortalidade? É difícil imaginar um imortal tossindo! A meu ver..."- Ele riu: "Pior que isso, jovem. Os imortais não só adoecem, como morrem! Poderia ser diferente? Tornar-se imortal tem pouco a ver com as mudanças físicas, como o embranquecimento de um urso outrora negro; quer dizer, conhecer algo, perceber algo... uma experiência que pode sobrevir num átimo! Ah, quão precioso é esse conhecimento! Quando pela primeira vez o atinge, você sente vontade de cantar e dançar, sente-se à beira da morte, ou de uma grande explosão de riso! Porque, de repente, percebe que nada no mundo pode feri-lo. Rujam os trovões, fluam as torrentes, dêem o bote as víboras, chovam as flechas - você os espera sorrindo! Passa a ver o corpo como uma flor nascida para desabrochar, para dar perfume, para viver e morrer. Quem se importa com a peônia, que parece estar ali para sempre, para milhares de anos? Uma abóbora merece mais atenção. É bom que as coisas terminem por morrer, e não há nenhuma perda nisso, pois a vida é imortal e jamais cresce com os nascimentos nem definha com as mortes. Um objeto gasto é descartado, e a natureza o substitui facilmente. Percebe agora? Você não pode morrer, pois nunca viveu. A vida não morre, pois não tem começo nem fim. Tornar-se imortal significa apenas deixar de se identificar com sombras e reconhecer que o verdadeiro eu é a vida sem termo. Mas que tolice estou dizendo? Esperam-nos para a refeição, venha!" - Blofeld ainda completa: "Pela primeira vez na vida, percebi que um homem pode não ter fé na sobrevivência pessoal e, entretanto, reconhecer que, ao perder-se, nada se perde".


Devemos compreender que nos tornarmos imortais não por nossos esforços, ou como um prêmio, um êxito. Mas tornamo-nos imortais ao alcançar a harmonia - quiçá unidade - com o Tao eterno.

No Livro do Elixir Áureo, temos: "Com a transmutação do Jing (essência) em Qi (vitalidade), a primeira barreira é rompida, sobrevindo a perfeita serenidade do corpo. Com a transmutação do Qi em Shen (espírito), a barreira intermediária cai, sobrevindo a completa serenidade do coração. Com a transmutação de Shen em vazio, a barreira final desmorona, e a mente se une à Mente. Assim se compõe o elixir e se obtém a imortalidade. Tal a verdadeira significação [de tudo quanto foi dito e escrito a esse respeito] da sagrada prática de cultivar e nutrir [jing, qi e shen]; ela não diz respeito de forma alguma à composição de uma pílula concreta".

Um ponto a se considerar no quesito da produção da pedra, é que não há um consenso geral sobre a sua obtenção: se é material, espiritual, ou uma junção de ambos os casos. Existem inúmeros relatos de mortes causadas por intoxicação com metais pesados, pela ingestão de substâncias produzidas erroneamente. Mas ainda assim, existem taoístas letrados, que consideram importante a conciliação dos medicamentos com a prática yóguica. Tais medicamentos tinham como objetivo a obtenção de 2 subprodutos: longevidade e conservação do vigor. Essa idéia encontra paralelo nas leis naturais taoístas, onde todos os princípios operam em todos os níveis de existência.

Num antigo texto esotérico, o autor busca explicar o real sentido de "misturar ingredientes para o elixir", dando outros sentidos para os termos alquímicos: "A serenidade é o principal ingrediente da alquimia, e não deve ser tomada na acepção de suprimir os sentimentos de sorte a tornar o indivíduo semelhante às pedras, às árvores ou à relva; que wu nien (literalmente, "não-pensamento") significa "pensamento real" ou pensamento igual à luz voltada para si mesma, fazendo com que o shen desperte o qi e o transforme em espírito-substância solidificado; que "chumbo" e "mercúrio" na verdade se referem a shen e qi, e que apenas nas formas inferiores do Yoga utilizam ingredientes. Prossegue ainda dizendo que, onde os textos falam em "macerar ervas para o elixir", o significado real é "controlar o corpo e a mente"; pois só quando a mente está calma ficarão completos Shen e Qi, prontos para a composição do elixir no cadinho do corpo".

O Regime: Preliminares para os 8 estágios

Nutrição do Corpo: "O fundamental é moderação em tudo. O alimento deve ser suficiente para aplacar a fome, mas não abundante nem por demais saboroso. Beba-se vinho, mas beba-se numa quantidade que não leve à excitação nem à vontade de cantar! A roupa deve ser adequada para a estação, nem muito leve no verão nem muito pesada no inverno. Quanto ao sono, a falta é tão danosa ao progresso quanto o excesso. Não se deve deitar-se nem levantar-se em horas irregulares, nem adormecer ao relento quando o sereno for forte. Relativamente aos banhos, diferentes escolas tem diferentes regras, mas deve manter-se um equilíbrio entre a higiene descuidada e o excessivo prazer de entrar na água. O exercício, embora bom, não deve ser violento nem conduzir à fadiga". - Ko Hung.

Um outro texto diz: "Os legumes, embora saudáveis, provocam estupidez; a carne, embora fortalecedora, faz engordar; os cereais, embora motivadores de sabedoria [alimento para o cérebro?], bloqueiam a longevidade; mas quem se nutre de Qi irradia luz pelo corpo e não morre nunca".

Existem 5 sacrifícios a fazer: "Apego à saúde e à fama faz mal - dispensa-o! Excessos de alegria ou de cólera perturbam a serenidade - dispensa-os! Forte apego aos prazeres dos sentidos produz desequilíbrio - dispensa-o! Preocupação com o êxito no cultivo do Caminho provoca o fracasso - dispensa-a! O desperdício do precioso estoque pessoal de Jing (sêmen) debilita a mente e o corpo - dispensa-o! Essas 5 formas de abstinência auxiliar-te-ão a viver mais - fica certo disso, mas não sejas tolo a ponto de julgar que te garantirão longevidade".

Respiração: O controle da respiração é fundamental em quase todos os tipos de Yoga: chinesa, indiana, tibetana. Existem muitas teorias de como as doenças se instalam no corpo devido à respiração errada. Por exemplo, a respiração torácica leva à ansiedade e ao sentimento de aperto no peito. Deve-se respirar não apenas pelos pulmões, mas pelos poros e pelos rins. Segundo a Medicina Tradicional Chinesa, os rins são o primeiro órgão a se formar durante a gestação e a respiração do bebê no ventre materno se realiza pelos rins, não pelo pulmão, que só começa a funcionar após o nascimento. Para uma prática regular de respiração deve-se manter uma dieta leve, com legumes frescos.

Para os horários das práticas, as horas que medeiam da meia-noite ao meio-dia são favoráveis à prática da respiração; as horas entre o meio-dia e a meia-noite não o são, pois é quando "o qi expira".

Exercícios: Existem muitos exercícios que poderiam entrar nessa classe. Talvez o mais comum seja o Tai Ji Chuan. Mas o Tai Ji seria muito mais aplicado à arte marcial propriamente dita do que especificamente à alquimia taoísta, embora seja também uma técnica de longevidade. E é claro, existe o Qigong, que é a Yoga Taoísta em si. Os exercícios podem ser divididos basicamente de dois tipos: Daoyin - exercícios de alongamento dos meridianos, e Neiqi, ou trabalho interno. O segundo, Neiqi, normalmente se caracteriza pela quase ausência de movimentos externos, e representa um tipo poderoso de Qigong, cujo objetivo é o desenvolvimento espiritual, em seu último estágio. Para maiores detalhes das práticas de Qigong e Tai Ji e seus diversos estilos, verifique http://oraculo.cih.org.br.
Ingestão: Embora seja uma prática que foi quase totalmente abandonada do regime yóguico por não ser um reflexo do verdadeiro caminho, teve por longos séculos um papel importante na busca da juventude e da longevidade. Os ingredientes mais usados eram: os cogumelos da família kih, que podem ou não estar relacionados com a planta atual kih, da família do sésamo, o podophylum, sementes de pinho, cálamo, fu-ling (raiz da china), cogumelos encontrados na base dos abetos, jade, mercúrio, cinábrio, enxofre amarelo, mica, etc. Segundo a lenda, essas drogas faziam o corpo irradiar uma luz sagrada e aligeiravam os membros.
Dessa ingestão voluntária de drogas e beberagens, pode ter surgido algo semelhante à homeopatia, onde pequenas porções de veneno tornam-se remédios. num processo de magia simpática. No entanto, é sabido também que muitos reis e muitos curiosos que beberam desses estranhos remédios encontraram a morte rapidamente, ou no máximo em alguns meses. Mas isso levantaria ainda uma outra questão: será que tais monges não mudaram a própria estrutura do seu ser para suportar tais remédios e elixires, enquanto as pessoas que não foram devidamente preparadas pelo longo caminho morreram daquilo que deveria salvá-las?


Os 8 Estágios da Alquimia Taoísta

A verdadeira imortalidade: O Qi amplia-se pela interação de Jing, Qi e Shen. No entanto, cabe comentar que essa ampliação implica um processo demorado e grande dedicação por parte do adepto. Mesmo a prática diária dos exercícios (Qigong), não são suficientes para fazer toda essa ampliação. Logo, ter sempre em mente as preliminares descritas acima como parte desse processo. A partir dessa interação e da ampliação do Qi, torna-se em espírito-Yang (Shen cósmico puro), transcendem-se as limitações físicas, e ocorre o mergulho na ilimitada fonte do ser.

"Enquanto a vida permanece, o espírito pode abandonar a carne a seu talente. Após a morte, regressará à fonte, misturar-se-á a ela e viverá para sempre. Se esse estado não for obtido em vida, as almas gêmeas acabarão por se extinguir, embora possam sobreviver em espírito por algum tempo. As folhas amareladas do outono não vivem muito depois de separadas do tronco nutriz, nem pode a árvore durar mais que alguns séculos".

A base: Existem naturalmente 2 seqüências. Conforme o Tao Te King: "O Um [Tao], dá nascimento ao dois [yin e yang], o dois, ao três [shen, qi, jing], o três, às miríades de objetos". Nesse processo, o vazio torna-se espírito. O Espírito torna-se vitalidade e vitalidade torna-se essência. E finalmente, a essência em forma. Ou seja:

VAZIO -> ESPÍRITO -> VITALIDADE -> ESSÊNCIA -> FORMA ou aindaTAO -> SHEN -> QI -> JING -> MIRÍADES DE COISAS (OU 10 MIL COISAS)

Quando o Shen é controlado, preserva-se o corpo físico, nutre-se o corpo para transmutá-lo em Jing, acumula-se Jing para transmutá-lo em Qi, e transmutam Qi para gerar o Shen, e transmuta-se o Shen para voltar ao Vazio (Tao), e é quando o elixir está destilado. Logo, é preciso ter essas 3 energias em abundância.

Desde o início o macho e a fêmea devem preservar a vitalidade sexual pela contenção das emissões, de modo que o Jing, tanto grosseiro quanto o sutil, sejam preservados. Dessa forma, o Qi aumentará, e o Shen florescerá.

No processo da alquimia taoísta, podemos dizer que os passos se encaminharão mais ou menos na seguinte seqüência: à medida em que as energias forem preservadas e cultivadas, o corpo se fortalecerá, desaparecem as doenças, a mente se torna mais clara e atenta, a pele rejuvenescerá e retorna também o vigor para o corpo. Logo, o processo se conduz pela observação dos seguintes pontos: A Conservação assegura a abundância do Jing, Qi e Shen. A Restauração recupera as deficiências e a Transmutação leva ao Vazio. Esta ocorre em 3 estágios -> O Jing, Qi e Shen à contrapartida sutil; do sutil para o puro Yang-Shen; e daí para o Vazio (Tao).

Nos casos em que o processo é iniciado tardiamente, a energia desperdiçada anteriormente pode ser restaurada pelos métodos apropriados.

Vamos agora à descrição detalhada de cada um dos 8 estágios:

1. Conservação do Jing: Torna-se necessário evitar o desperdício do sêmem. Muitos autores ocidentais postulam a necessidade de erradicar o prazer e o desejo, no entanto, depois de muita prática, percebemos que o objetivo na verdade, não é erradicar ou banir o desejo e o prazer, mas evitar o excesso de ambos. Apesar de ser outra corrente filosófica, esse pensamento assemelha-se ao Caminho do Meio do Budismo. A melhor definição que talvez possa descrever isso é: desejar, mas não demais. Ter prazer, mas não demais. Pois o segredo é o equilíbrio e a harmonia, não a ausência, pois seguindo o princípio do Tai Ji (o famoso símbolo do Yin/Yang que mostra a concorrência das energias), tudo busca um equilíbrio. Assim a ausência absoluta do desejo e do prazer, só podem conduzir à busca desenfreada dos mesmos. O intercurso (relação sexual) não é mal ou ruim, mas pode levar ao desequilíbrio se for descontrolado. No texto Instruções Secretas para a Composição do Elixir Áureo é dito que:

"Quando a pessoa está tranqüila e contém seus desejos, Jing e Qi sobem dos três receptáculos [Dan Tien Inferior, Médio e Superior] e correm através de canais psíquicos; o ato sexual, entretanto, suga-os para as 'portas da vida' (entre os rins), de onde são ejaculados. Mesmo na excitação involuntária agita-se o fogo nas 'portas da vida' e o Jing e o Qi transbordam; a menos que sejam forçados a voltar, haverá perda como se a ejaculação realmente acontecesse".

"Só homens de raro talento podem entregar-se ao perigoso ioga do cultivo dual (com parceiro sexual). Pessoas menos bem-aquinhoadas acabam por exaurir sua cota de Jing e Qi, comprometendo a saúde e vendo-se forçadas a abandonar para sempre a tarefa sagrada de criar um corpo imortal. Ao fim, tornam-se meros libertinos, votados à extinção - e a isso chamam cultivo do Caminho! Seria risível, se não fosse lamentável".

Evitando qualquer excesso tanto de um lado como de outro, Sun Szu-Mo aconselha: "Para jovens de vinte anos, uma emissão a cada quatro dias; para homens de trinta, uma a cada oito dias; para homens de quarenta, uma a cada dezesseis dias; aos cinqüenta anos, basta uma emissão a cada vinte e um dias. Evite-se toda emissão após os sessenta anos; não obstante, um homem ainda robusto depois dessa idade pode-se permitir uma mensalmente, apesar de se esperar dele, a essa altura, pensamentos mais tranqüilos e total abstinência".

Aqui devemos fazer uma advertência no entanto, em relação oriente/ocidente e passado/atualidade. Devido à escassez de comida em tempos longínquos, higiene adequada, falta de serviços de saúde pública e água tratada, embora alguns possam defender que a vida era mais 'natural', viver também era mais arriscado, pois muitas enfermidades vinham da péssima condição de vida em geral. E foi justamente isso que levou os chineses a criarem a acupuntura e demais técnicas da Medicina Tradicional Chinesa, para preservação da saúde. E atualmente, apesar de dizermos que a comida moderna é pior para a saúde, existem muito mais opções saudáveis do que jamais houve sobre a terra em qualquer tempo sob qualquer condição.

Portanto, algumas das observações sobre evitar emissões, se referem a pessoas que naquele período chegavam raramente aos 60 anos e quase nenhum aos 60 anos com saúde. Portanto, nesses casos, uma emissão associada a uma condição geral de vida ruim, certamente iria debilitar ainda mais o organismo. No entanto, na atualidade, as regras podem ser re-trabalhadas, de forma a se tornarem coerentes com a vida atual. Mas ainda assim convém observar uma coisa.
Nem todas as pessoas levam sua própria saúde a sério. Assim, aqueles que desejam dedicar-se a esta via sagrada, devem observar essas regras com cuidado. Pois se alguém trata seu corpo como um Aterro Sanitário, jogando ali dentro todo lixo que encontra no caminho, é claro que para esta pessoa, o processo de Restauração em si já é quase tão impossível de atingir como a própria imortalidade.


2. Restauração ou Reparação do Jing: Esse processo é necessário caso o praticante tenha tido perdas danosas antes da adesão ao processo alquímico. Logo, a observação contra os excessos de qualquer natureza aqui é de suma importância. Além disso, torna-se necessário 'Colher o Jing' (não confundir com 'Reunir o Jing' que é a mistura das essências do cultivo dual, entre parceiros). Para colher, é necessário evitar o intercurso sexual e bloquear o desejo, assegurando a tranqüilidade. Álcool e alimentos picantes devem ser evitados, porque o Jing (aqui significando sêmen), sendo secretado pelo sangue, deve ser nutrido, evitando-se a super-excitação. A cólera e outras paixões excessivas fazem o fogo Hsing predominar no fígado, afetando também outros órgãos como o coração; o álcool esquenta o sangue. Isso tudo é perigoso, devendo-se evitá-los. Temperos fortes como cebola e alho, devem ser evitados ou usados com parcimônia. Os exercícios adequados devem ser realizados juntos com a respiração, mas deve-se evitar chegar à estafa. Deve ser vigoroso, mas não extenuante.

3. Transmutação do Jing: Mais importante que a conservação e a reparação, a transmutação do Jing em Qi, é essencial para o processo alquímico. Ele torna-se a principal fonte de Qi. Sugerimos aqui a leitura do texto 'O que é Jing?' para uma compreensão dos diversos tipos de Jing. Deve-se evitar desperdiçar o Jing existente, equilibrar o Qi e estimular o Shen para que se torne cada vez mais límpido. Esvaziar a mente de pensamentos provoca o acúmulo de Qi e a produção de Jing. Havendo o suficiente, sua transmutação é fácil.

Quando desejos e sensações são dominados de modo que a mente, livre de pensamento discursivo, se torne semelhante a um lago sereno, então o Yang-Qi se consolida e nutre o Jing sutil, produto da transmutação trazida pela perfeita serenidade, pelo vazio perfeito; simultaneamente, a consolidação do Shen deve ocorrer pela contemplação da luz que emana da área conhecida como "preciosa polegada quadrada". Nada de conceitos! Nada de pensamentos! Quando a mente está vazia, o Shen se consolida e a energia Yang do Céu penetra. Eis a base do Qigong. Na ausência da serenidade, todo o resto é inútil!

"Meu pensamento não se volta para fora,Nem há, por dentro, guarida para ele;As miríades de coisas se aquietam em repousoE meu ser inteiro no nada se dissolve!"

Yuan Liao-Fan sugere uma prática que auxilia na transmutação que consiste em levantar-se à meia-noite, sentar-se na cama, segurar o escroto com uma das mãos e espalmar a outra mão sobre o umbigo. Não tendo havido ejaculação recente, o Yang-Qi na parte exterior chega ao ponto máximo entre vinte e três horas e uma hora da madrugada, quando o Qi do corpo e do Céu estão de acordo. Tendo havido emissão recente, esse período é retardado e flutua entre uma e cinco horas da manhã. Mas há casos em que nada ocorre, quando o céu e a terra não estão de acordo.

Em suma: aquiete-se o Qi para que o Shen se torne límpido; apanhe-se o yang-shen externo no momento em que seu fluxo chegou ao ápice; mentalmente, elimine-se o dualismo "eu/outros"; suste-se o fluxo de Jing rudimentar a fim de que o Jing sutil não diminua; obtenha-se a calma mental e contemple-se a radiância interior; então, o Jing rudimentar se transformará em Jing sutil no corpo do praticante, identificando-se com o Jing cósmico exterior. Há outros passos além desses, mas devem ser transmitidos apenas a iniciados.

4. Alimentar o Qi: É o vento que se agita dentro do caos anterior ao nascimento do universo (ver diagrama do Céu Anterior). Alimentar o Qi significa acumular um estoque do Qi sutil. A serenidade é a base de tudo. Além de acalmar a mente, deve-se manter a prática da respiração correta. A agitação da mente prejudica o acúmulo de Qi. A mente deve ser tranqüila e a respiração uniforme.
Existem 4 tipos principais de respiração: a leve, que é tão suave a ponto de tornar-se inaudível para o praticante; a longa, que são séries de respirações lentas, plácidas e contínuas; a profunda, que é orientada ao umbigo, com o ventre contraído e a uniforme, onde inspiração e expiração tem a mesma duração. O Clássico da Longevidade, recomenda:
"Sente-se calmamente durante algum tempo. Deixe a mente tornar-se límpida, como na preparação para a meditação Chan (Zen), com os olhos fixos na ponta do nariz, e este alinhado com o umbigo. As expirações e inspirações devem ser tranqüilas, lentas, de duração uniforme, jamais ofegantes. Enquanto se expira, o Qi se eleva; enquanto se inspira, ele baixa. Não deve haver intervalos nem se deve prender a respiração. O ato de respirar deve receber apenas uma ligeira atenção, limitada a uma calma consciência da passagem do ar pelas narinas. Ainda assim, não se deve permitir que o sentido da audição se detenha em nenhum objeto".

Respirar como um bebê no útero significa que o Qi foi devidamente alimentado e transmutado, e que a respiração é tão suave e regular que dá a impressão de haver cessado. Ainda assim, com o tempo, a respiração normal às vezes cessa, sem causar morte ou mesmo desconforto, sendo o ar absorvido um pouco através dos rins e um pouco dos poros.
O Shen é a nossa natureza, o Qi, nossa vida.

5. Transmutar o Qi: Os iniciados aprendem a aumentar o calor interno com o qual se promove a transmutação do Jing, Qi e do Shen. Esse processo deve ser tentado apenas sob orientação de um mestre, dada sua dificuldade. Este estágio só pode ser ultrapassado ou sequer tentado após o acúmulo necessário de Qi exigido no estágio anterior.
"A lua cheia brilhaNa calma do vazio.Quando o vento agitarA superfície do lago,Guarde uma gota no peito.O parente do rubro sol saberá".

6. Alimentar o Shen: Por ser espírito, o Shen é o 'senhor do corpo', 'a mãe do elixir dourado' e outras denominações exaltadas. Segundo um dos clássicos do Imperador Amarelo, "alimentar o Shen constitui a mais alta tarefa; alimentar o corpo - apesar de importante - é secundário".

Num tratado antigo, atribuído a Hsi Wang Mu, é dito: "O modo de fixar [o shen] e [o] conservar consiste em saber o que é a felicidade [isto é], estar satisfeito com o suficiente, estar além da aflição causada pelo frio e pela fome, estar livre da servidão dos pensamentos ociosos - pois então surge o Qi com o qual a mente é alimentada. Pratique durante a vigília noturna, sem preocupar-se com posturas especiais. Cruze os braços, relaxe os membros, expulse os pensamentos ociosos, deixe que o corpo seja o único objeto da consciência. Então o shen será fixado, o qi corrigido e seu espírito se tornará imune ao envelhecimento e à morte".


7. Transmutar o Shen: O Shen grosseiro transmuta-se em espírito puro (Shen Cósmico). Os cuidados foram banidos, as preocupações, afastadas; não há um só pensamento a agitar a tranqüilidade da mente - em tudo, apenas a sagrada radiação"!

"O Yang-Shen transcende o mundo tríplice. [Com ele] vossa tarefa estará completa, vossa prática, realizada; e então ascendereis ao rutilante pálio do céu". - Livro do Elixir.




8. Transmutar o Shen esvaziado para torna-lo um com o Vazio (Tao): Tendo purificado e transmutado nosso estoque de Shen de modo a torná-lo idêntico ao vazio em sua natureza, o estágio final consiste em transcender a existência individual, em "voltar à fonte".

Shen esvaziado quer dizer mente ou espírito tão livre da servidão dos sentidos e dos dualismos como 'eu' e 'o outro' que a existência individual foi transcendida, salvo na medida em que o praticante ainda possui uma forma corporal individual (que só será descartada na morte). Por vazio entende-se 'o puro Yang', não o mero vácuo, mas uma plenitude indiferenciada, totalmente intangível, ou yang-shen sem forma. Quando alguns praticantes dizem "dar a luz à uma criança imortal", quer dizer: resumir ou voltar à natureza real e sagrada do ser original; o útero em que essa criança se forma nada mais é que o yang-shen original. Tendo atingido a perfeita serenidade, a mente mergulha no lago, isto é, no esplendor do shen concentrado. Agora de plena posse da natureza pura e sagrada do ser original, tranqüilo e auto-existente, o praticante não vê barreira entre ele e sua gloriosa meta final.

É porque as pessoas comuns não sabem transmutar seu shen que o shen não se congela num espírito-corpo, capaz de retirar-se do corpo carnal durante algum tempo e encontrar glorioso relaxamento na totalidade do ser. Os que disso são capazes constituem os verdadeiros imortais; seu "vôo" significa flutuar de vez em quando para diluir-se na condição primordial que se encontra para lá do universo da forma. Esse "vôo" constitui um estado de consciência no qual o sentimento do "eu" e do "outro", do céu e da terra desapareceu; nada existe senão o puro vazio, um oceano ilimitado de Qi, semelhante a um panorama de nuvens-formas em constante mutação. Tchuang-Tsé descreve esse estado como "diluição do vazio do yang-shen de alguém no vazio do Vazio original".

"Quanto ao estágio final, o objetivo é retornar à fonte através de uma apoteose, que pode apenas ser sugerida por palavras. O ego ilusório desaparece, e não obstante, nada de real é perdido. O espírito, liberto de suas peias, regressa ao Espírito, não como a gota destinada a formar uma insignificante partícula do vasto oceano, mas como o ilimitado retornando ao ilimitado. A consciência, agora livre, expande-se para abarcar - para ser - o universo inteiro! Pode por acaso, haver empresa mais gloriosa?

"A única alternativa é saltar sobre o dragão - há sempre um ao alcance da voz -, fazer a trouxa para uma jornada além do Sol e da Lua, e galopar diretamente para o seio do infinito". - John Blofeld

Acabo considerando esse texto não meu com trechos de John Blofeld e tampouco um texto de John Blofeld com notas minhas. Talvez seja uma co-autoria de ambos, uma vez que o importante sinólogo viveu numa época em que não havia tanta informação disponível nem tantos mestres haviam vindo ainda ao ocidente.

( Thursday, 08 February 2007 )
Carvalho