sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Wude - A Moral nas Artes Marciais

Wude - A Moral nas Artes Marciais

Os professores sempre consideraram a Wude como um dos critérios mais importantes na avaliação dos alunos, e faziam-no como um dos requisitos fulcrais no treino das artes marciais chinesas.

Wude inclui duas componentes: A Moral da Ação e a Moral da Mente.

A Moral da Ação (Xing De) :
Humildade (Xiang Xu);Respeito (Zun Jing); Rectidão (Zheng Yi); Confiança (Xin Yong) e Lealdade (Zhong Cheng).

A Moral da Mente (Pin De):
Vontade (Yi Zhi);Resistência (Ren Nai); Perseverança (Yi Li); Paciência (Hen Xin) e Coragem (Yong Gan).

Tradicionalmente, os alunos que cultivam estes padrões morais são considerados merecedores de aprender. Das duas componentes da Moral nas Artes Marciais, a Moral da Ação é a mais importante, cuja razão é muito simples:

A Moral da Ação prende-se na relação dos alunos com o mestre, com os seus companheiros de treino, outros artistas marciais e o público em geral. Os alunos que não revelam moral nas suas ações não são merecedores de aprenderem os ensinamentos pois, não são dignos nem de confiança nem mesmo de serem respeitados. Além disso, sem estes valores, estes poderão abusar das artes e das suas habilidades marciais para magoar pessoas inocentes. Por isso, era comum, antes de dar início ao treino marcial a sério, os mestres observarem cuidadosamente durante muito tempo os seus alunos, até se certificarem de que estes se encontravam nos padrões da Moral da Ação.

A Moral da Mente é usada na auto cultivação, sendo um requisito para se atingir o objetivo final nas artes marciais. Os chineses consideram que existem duas mentes: a mente emocional (Xin) e a mente racional (Yi). Normalmente quando falhamos em alguma coisa é porque a mente emocional domina o nosso pensamento. Os cinco elementos da Moral da Mente são as chaves do treino, que levarão o aluno a um estado onde a mente racional domina. A autodisciplina e a auto cultivação devem ser um objetivo presente em todas as filosofias das artes marciais.

Moral da Ação (Xing De) -------------------------------------------------------------------

Humildade (Qian Xu):
A humildade provém do controlo do nosso orgulho. Na China costuma-se dizer: “A satisfação (orgulho) perde, a humildade ganha benefícios”. Isto porque, quando estamos satisfeitos, não temos inspiração nem para pensar profundamente, nem predisposição para aprender. Contudo, ao sermos humildes, conseguimos encontrar formas de melhorar e de continuar a aprender; nunca esquecendo que não há limites para o conhecimento; que não importa o quão profundo consigamos ir; pois existe sempre um nível ainda mais profundo. Segundo Confúcio, “Se há três pessoas que passam por mim, deve haver uma que possa ser meu professor” – Haverá sempre alguém mais talentoso ou com mais conhecimento que nós noutro campo. “Há sempre um homem acima de um homem, e há um céu acima do céu”. (Provérbio Chinês) Depois disto como podemos ser tão orgulhosos de nós próprios?

Respeito (Zun Jing):
O respeito é a base da nossa relação com os nossos pais, professores, colegas e outros artistas marciais; de uma forma geral com todas as pessoas da sociedade. O respeito torna possível a harmonia nas relações, contudo o respeito por nós próprios é o mais importante. Se nós não nos conseguimos respeitar, então como poderemos respeitar os outros e esperar que os outros nos respeitem? O respeito tem que ser ganho, não podemos pedi-lo ou exigi-lo. Na China costuma dizer-se: “Aqueles que se respeitam e respeitam os outros, também serão respeitados”. Por exemplo, se nos desprezarmos e nos tornarmos violentos na nossa sociedade, então perderemos o respeito por nós próprios. Uma vez que abusamos da nossa personalidade e humildade como seres humanos, porque haveriam as outras pessoas de nos respeitar? O respeito será ganho automaticamente e de forma natural, somente quando demonstrarmos que o merecemos.

Retidão (Zheng Yi):
A retidão é uma forma de vida, traduzindo-se no fato de que se existe algo que nós devemos fazer, então não deveremos hesitar em fazê-lo; e da mesma forma, se houver algo que nós não devemos fazer, então não nos deveremos envolver. A razão deve ser o nosso guia, e não as nossas emoções. Se conseguirmos tal conduta, com certeza que nos iremos sentir espiritualmente limpos; que conseguiremos evitar influências negativas ou sentimentos de culpa; e deste modo ganhar a confiança dos outros.

Confiança (Xin Yong):
A confiança implica ter confiança em nós próprios e ser digno de confiança. Deveremos desenvolver uma personalidade em que as outras pessoas possam confiar, pois a confiança é a chave da amizade e a melhor maneira de ganhar respeito. Por exemplo, não deveremos fazer promessas em vão, e se a fizermos deveremos cumpri-la. A Confiança de um amigo é difícil de ganhar, mas muito fácil de se perder. Termos confiança em nós é a raiz da própria confiança. Deveremos ser nós a desenvolver a auto confiança e pô-la em prática, só depois poderemos ganhar a confiança e o respeito dos outros.

Lealdade (Zhong Cheng):
A lealdade é a essência da confiança. Devemos ser leais com o nosso professor e com os nossos amigos, e consequentemente eles também deverão ser connosco, pois a lealdade fará com que a confiança mútua cresça. Nas artes marciais chinesas, é crucial que exista lealdade entre nós e o nosso mestre. Esta lealdade é construída a partir do princípio da obediência para com o mestre.
A obediência por si só é um pré-requisito para a aprendizagem. Se estivermos seriamente interessados em aprender, deveremos então libertar a nossa falsa dignidade, curvando-nos perante o mestre, mental e fisicamente, pois só assim se abre a porta da confiança. O professor não ensinará ninguém que constantemente se preocupa com a sua dignidade. Lembrem-se que em frente do vosso mestre, vocês não têm dignidade.

Moral da Mente (Pin De) -------------------------------------------------------------------

Vontade (Yi Zhi):
O longo tempo que se espera até ser revelada uma vontade forte, é resultado de uma luta constante entre a mente emocional e a mente racional. Se a mente racional governar o nosso ser, então seremos capazes de superar os distúrbios que a mente emocional causa, e essa vontade perdurará. Uma vontade forte depende da sinceridade com que nos propomos a atingir os nossos objetivos. Isto terá que vir de dentro de nós, e não poderá ser apenas casual ou como um desejo vago. Muitas das vezes, os alunos que no princípio demonstram grande vontade em aprender, depressa desistem, e aqueles que escondem essa vontade no interior dos seus corações são os que perduram.

Resistência, Perseverança e Paciência (Ren Nai, Yi Li, Heng Xin):
Resistência, perseverança e paciência são as manifestações de uma vontade forte. As pessoas que são bem sucedidas, nem sempre são as mais inteligentes, mas sim aquelas que são pacientes e perseverantes. As pessoas que são mesmo inteligentes, não usam somente a sabedoria para guiar o seu pensamento, mas também para governar as suas personalidades. Através da cultivação destes elementos, nós podemos gradualmente construir uma mente mais profunda, que é a chave da essência da aprendizagem. Se soubermos usar a nossa mente para ponderar e treinar, ela poderá guiar-nos a um estado profundo de aprendizagem e compreensão. E se nós conseguirmos manifestar esse estado de compreensão nas nossas ações seremos capazes de superar os outros.

Coragem (Yong Gan):
A coragem é muitas vezes confundida com bravura. Coragem origina-se com a compreensão que vem da sensatez. Bravura é uma manifestação externa da coragem, e pode ser considerada como a criança da sabedoria e da mente emocional. Por exemplo, se tivermos a coragem de aceitar um desafio, isso significa que as nossas mentes compreenderam a situação e decidiram tomar uma decisão. Depois, deveremos ter bravura suficiente para fazer face a esse desafio. Sem coragem, a bravura não durará muito tempo. Sem a compreensão profunda da coragem, a bravura pode ser cega e estúpida. ______________________________________________________________________

3 comentários:

  1. boa noite!
    este texto é muito bom, foi uma ótima escolha!
    encontrei ele num site de portugal, vc saberia me dizer qual é a origem do texto?
    Eu gostaria de utiliza-lo, mas terei que pedir ao dono do texto antes. se souberes, agradeço muito!


    abraço,
    rafael

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  2. Caro Rafael,

    desculpe-me a demora em repondê-lo.
    O texto provavelmente foi extraído de um dos livros do mestre Yang Jwing-Ming, grande mestre que publicou vários livros em Inglês e espanhol, ele mora nos EUA e tem uma Associação de Artes marciais chinesas com filiais em muitos países, inclusive Portugal.

    Um abraço e até breve

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  3. Rafael,

    segue o endereço em Portugal da Academia do Mestre Yang Jwing Ming:


    Associação de Artes Marciais Yang Portugal

    Travessa da Ordem Militar do Hospital, nº 7 - 4 Dto.
    Falagueira
    2700-626 Amadora

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